A Feira do Livro para mim tem sempre um efeito de quimera. Acaba por nunca corresponder ao que vou à espera, mas geralmente traduz-se em algo ainda mais prazeroso.
A primeira vez que conheci esta feira, tinha uns 12 anos e pouco dinheiro para gastar em livros. Fui arrastada por uma amiga tão ou mais livrólica do que eu que ia com os pais lá passar a tarde e que me convidou também. O acordo lá ainda foi melhor: cada um ia onde queria (claramente andámos sempre juntas), com um ponto de encontro combinado no final. Percorremos aquele espaço de alto a baixo, vimos muitos mas muitos livros e comprámos alguns. Vim de lá de alma lavada, porque a Feira do Livro era um presente descoberto, e os melhores presentes chegam-nos sempre inesperadamente embrulhados por quem nos quer bem.
Passou a ser um ritual anual ir com esta amiga e família à feira, sempre numa enorme excitação, mesmo que trazendo poucos livros. O que interessava era a experiência. E essa tem alimentado a minha memória e as minhas raízes bibliófilas, mas principalmente o imaginário de uma vida.
Com os anos, a Feira do Livro de Lisboa continuou a funcionar para mim numa índole muito própria, mas sempre ligada às experiências. Foi para lá que fugi para aliviar a pressão das frequências durante a faculdade ou quando precisava de espaço para estar só (no meio de tantos desconhecidos), foi para lá que me dirigi para rever caras amigas e conhecer outras tantas, foi lá que redescobri o prazer do inesperado, do livro desconhecido, da experiência de passar a mão por uma capa que nos atrai, de um título chamativo que cativa o olho, de uma imensidão de sinopses à espera de serem exploradas para encontrar o livro certo a trazer para casa.
De facto, ter um blogue literário é um enorme prazer, mas com tanta informação sobre novidades e lançamentos editoriais que nos chega ao email, pouco ou nada é desconhecido. Entrar numa livraria, numa papelaria, num supermercado e olhar para capas de livros tornou-se um exercício repetido, que a mente não esqueceu e sem qualquer elemento surpresa.
Ir à Feira do Livro de Lisboa é assim conectar-me com o meu eu leitora, com as sensações que me arrastaram para o mundo literário, para o conforto de uma casa familiar mas esquecida todo o ano.
Deste modo, apesar das imensas listas de desejos, os parcos sacos que trago comigo acabam sempre por ser (maioriamente) descobertas in loco. Aqueles que ganharam espaço no meu coração antes mesmo de os ter lido porque apreciei o processo de escolha. Os que se calhar estão há dois anos na estantes, atropelados por tantos outros que vão surgindo e ganhando prioridade de leitura, mas que acabam por ser um segredo, só meu, escondido no meio de mares de palavras.
A Feira do Livro é o meu segredo mais bem guardado. E de tantos lisboetas. E de tantos portugueses. Porque é uma Feira diferente para cada um de nós.
Acompanhem as nossas sugestões para os livros do dia através da página oficial do Encruzilhadas Literárias no facebook.
Fonte do vídeo: APELmedia
Cláudia
Sobre a autora:
Maratonista
de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o
Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do
voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projecto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.
Olá Cláudia,
ResponderEliminarQue bom foi conhecer a tua experiência com a feira do livro.
SEm dúvida que a feira é acima de tudo uma experiência :)
Beijinhos e boas leituras