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Opinião: Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos, de Olga Tokarczuk

 
Conduz o Teu Arado Sobre Os Ossos dos Mortos
de Olga Tokarczuk

Edição/reimpressão: 2019
Páginas: 288
Editor: Cavalo de Ferro





Sinopse:
«Uma surpreendente junção de thriller, comédia e tratado político, escrito por uma autora que combina um intelecto extraordinário com uma sensibilidade anárquica.» The Guardian
Numa remota aldeia polaca, a excêntrica Janina Duszejko, professora reformada, divide os seus dias a traduzir a poesia de William Blake e a observar os sinais da astrologia, fazendo por manter-se afastada das pessoas e próxima dos animais, cuja companhia prefere; mas a pacatez dos seus dias vê-se interrompida quando começam a aparecer mortos vários membros do clube de caça local. Certa de encontrar respostas, Janina decide lançar-se na investigação do caso, chegando a uma estranha teoria que espalhará o terror pela comunidade.
Sob a máscara de policial noir ou fábula macabra, Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos é um romance mordaz e desconcertante que questiona a nossa posição acerca dos direitos dos animais e responsabilidade sobre a natureza, bem como todas as ideias preconcebidas sobre a loucura, a justiça e a tradição.
«Podia ser uma versão do  filme Fargo, reescrita por  Thomas Mann.» The Telegraph
«Uma entre os poucos assinaláveis romancistas europeus a surgirem neste século.» The Economist

Rating: 4/5
Comentário: Olga Tokarczuk tornou-se mundialmente conhecida em 2019, após o anúncio dos galardões do Prémio Internacional Booker e do Prémio Nobel da Literatura 2018. Já me tinha cruzado com o "Viagens", livro que comprei há uns tempos, e pude ouvir o excerto de um dos seus contos durante o evento da Noite Europeia da Literatura em Junho de 2019.
Recolhi com agrado a notícia dos prémios ganhos, pelo que fiquei com curiosidade de, finalmente, enveredar nas histórias por si tecidas.
Foi com este estado de espírito que iniciei este livro, que todos associam ao thriller (e não deixa de o ser), mas que sempre conectei ao imaginário pagão e às raízes da terra e da Mãe Natureza. Incrivelmente, este livro é também isso tudo, ou não se iniciasse com personagens designadas por "Papão" e "Pé Grande". A criação mais bonita desta história prende-se como facto de estas ópticas residirem na mesma pessoa, Janina, a mulher que encarna a solidão do isolamento de um lugarejo e do amor da designação do Universo pela astrologia.
Com uma visão muito própria do mundo, esta personagem promove um encontro do seu eu com uma sensibilidade muito apurada, envolvendo a mística do quimérico com o factual da essência da vida.
Numa análise mais mundana, este livro é uma ode pelo respeito do equilíbrio dos ecossistemas, da bondade e do reconhecimento dos animais enquanto seres vivos, com a sua própria consciência, mas sempre dignos de existência. É também um thriller, onde homens feitos e confiantes de deterem o domínio da razão e do mundo, se vêem roubados do sopro da vida, quase que num pacto de equilíbrio com o Universo.
Olga Tokarczuk é uma mestre das palavras, com uma escrita bonita, envolvente, poética e singela. Este estilo ganha ainda mais corpo através do enredo, cuja dinâmica fluída contribui para reforçar uma aura mística e transcendente às personagens; mas também ao lugar, à passagem do tempo e ao enredo em si. Os momentos de mistério e catástrofe são inseridos na narrativa de uma forma torneante, como o curso de um rio, e pretendem criar a dimensão de continuidade, já que mesmo quando a vida se quebra, ela continua.
Uma voz refrescante, uma abordagem sui generis, um dilema simples apresentado com uma complexidade desconstruída. Um livro que vale a pena conhecer. Bravo. 


Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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