Passagem para a Índia
Edição/reimpressão: 2019
Páginas: 312
Editor: Relógio de Água
Sinopse:
Adela Quested chegou à cidade indiana de Chandrapore para casar. Acompanhada pela Sr.a Moore, tornam-se amigas do Dr. Aziz, que se oferece para lhes mostrar as Grutas Marabar.Mas quando exploram as grutas ocorre um acidente, e Aziz é acusado e detido. Enquanto o médico aguarda julgamento, a opinião dos britânicos e dos súbditos indianos divide-se entre a sua culpa e inocência, e as tensões surgidas ameaçam transformar-se em violência.
«Um dos romancistas ingleses mais estimados do seu tempo.»[The Times]
«De uma enorme mestria.»[Anita Desai]
Adela Quested chegou à cidade indiana de Chandrapore para casar. Acompanhada pela Sr.a Moore, tornam-se amigas do Dr. Aziz, que se oferece para lhes mostrar as Grutas Marabar.Mas quando exploram as grutas ocorre um acidente, e Aziz é acusado e detido. Enquanto o médico aguarda julgamento, a opinião dos britânicos e dos súbditos indianos divide-se entre a sua culpa e inocência, e as tensões surgidas ameaçam transformar-se em violência.
«Um dos romancistas ingleses mais estimados do seu tempo.»[The Times]
«De uma enorme mestria.»[Anita Desai]
Rating: 4/5
Comentário: "Passagem para a Índia" foi escrito em 1924, traduzindo-se num relato muito lúcido sobre os processos de ocupação colonial e das divisões estrato-sociais entre ocupantes e ocupados, com todos os estigmas e adversidades que decorrem de um processo de choque de culturas. E chamo-o de um retrato lúcido, porque é um lampejo da demonstração de ruptura cultural à espera de acontecer, coberta por uma película de civilização forçada que o autor nos traz. Rotura essa que, como bem sabemos, só de configura cerca de 20 anos mais tarde, a 15 de Agosto de 1947 (o que facilmente permite averiguar a teimosia acostada de um antigo Império prestes a perder um dos seus "bens" mais preciosos, sem vontade alguma de abrir mão dele).E.M. Forster sabe ser crítico, e é-no na sua abrangência de afectos, não poupando ninguém e libertando-se de possíveis identificações com favoritismos. Tanto são arrasados e analisados a comunidade anglo-indiana, sobranceira e determinada a implementar o que julga ser a nata do mundo em todas as esferas da vida, da social à económica, como a Índia é relatada com crueza, que nos leva por vezes a duvidar/ questionar se não há aqui também uma visão já europeísta e muito inglesa do país em questão: pessoas preguiçosas, servis, revolucionárias, insistentes e pouco sensatas, nunca compatíveis.
É de resto sobre esta barreira invisível mas bem latente sobre a qual nos debruçamos neste livro. A chegada de dois elementos estranhos ao ecossistema, que não pretendem adaptar-se às regras existentes para definir as suas, cada uma com os seus interesses subliminares em andamento.
Adela procura ser a sonhadora expedicionária do Mundo real, somente para calar a inconsciência mental quanto à diferença e recusa num casamento que tanto lhe faz, mas que pode até passar a querer fazer algo, nomeadamente, enfado.
A futura sogra, dotada de desprezo pelo papel que é obrigada a desempenhar, e necessidade de procurar algo com que se ocupar enquanto o tolo do filho não se decide e a nora não a liberta.
Da mesma forma que a sociedade se vai estilhaçando à medida que passamos da leitura superficial e da civilidade, este livro enverada-nos na história das personagens de igual forma, quando só polida a superfície é possível auscultar a verdadeira essência de cada uma.
O acontecimento descrito na sinopse acaba por não passar de um climax, que permite a continuidade da acção, até porque a resistência e caracterização societal assim já o adivinhava. Na prática, serve para libertar personagens e dar-lhes antena para o exorcismo das suas opiniões mais cerradas e anteriormente ignoradas.
Outro ponto interessante passa pela assumpção real de que a Índia é mais continente do que país, justificando a existência de vários povos e crenças, que não se coadunam em nada, somente na necessidade de se posicionarem quanto ao inimigo externo.
É um livro de retrato social, reflexão crítica, crónica de maus costumes, anti-vencedores e vencidos. Uma análise à mente humana e aos seu lado obscuro e ofegante por drama e necessidade de posicionamento intelectual.
Cláudia
Sobre a autora:
Maratonista
de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o
Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do
voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.
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