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Opinião: Jonathan Strange & o Sr. Norrell, de Susanna Clarke



Jonathan Strange & o Sr. Norrell
de  Susanna Clarke
 
Edição/reimpressão: 2015
Páginas: 736
Editor: Casa das Letras
  




Sinopse: 
Há séculos, quando a magia habitava Inglaterra, houve um mago que se distinguiu entre todos os outros. Chamou-se Rei Corvo, foi criado por fadas e, como nenhum outro, soube conjugar a sabedoria desses seres com a razão humana. Só que tudo se alterará a partir do momento em que um rei louco e alguns poetas mais arrojados fazem com que a Inglaterra deixe de acreditar na magia. O que acontecerá até meados do século xix, quando o solitário Senhor Norrell, de Hurtfew Abbey, que faz andar e falar as estátuas de catedral de York, acredita que poderá ajudar o governo de Sua Majestade na guerra contra Napoleão.
Já em Londres, Norrell encontrará Jonathan Strange, um jovem, rico e brilhante (mas também arrogante), que descobre por acaso que é um mago, tornando-se seu discípulo. Os feitos de ambos haverão de maravilhar a velha Inglaterra. Até ao momento, no entanto, em que a parceria, que parecia destinada ao sucesso, virará rivalidade. É que, fascinado pela figura sombria do Rei Corvo e atraído pela sua «insensata busca» por magias há muito esquecidas, Jonathan haverá de pôr em causa tudo o que Norrell mais estimava.
Jonathan Strange e o Sr. Norrell é, pois, um romance «elegante, mordaz e absolutamente arrebatador», envolvido em grande mistério e beleza, e que agarra o leitor até à última página.

Rating: 3,5/5
Comentário: Susanna Clarke levou anos até finalizar "Jonathan Strange & Mr Norrell. O que se compreende pelo tamanho e complexidade de história que ela construiu. Talvez por isso também tenha dado por mim a terminá-lo somente ao fim de alguns meses.
Ao finalizar este livro consegui perceber porque é já considerado um dos clássicos da literatura moderna. A autora não nos traz uma história mas um completo universo, com variantes paralelas, numa mescla constante entre o realismo mágico, o mundo espiritual e o fantasmagórico, sempre associado a alegorias, morais, valores, segredos e intrincadas diplomacias do que é viver num Reino Unido conservador, mas com acesso a um mundo mágico premente, em desuso e pouco explorado.  Nem o Mr Norrell nem Jomathan Strange (ou para ser honesta, qualquer uma das personagens) são gostáveis, mas a ligação entre entre ambos é o motor de ignição para uma trama minuciosa e, porque não dizer, algo vertiginosa.
A acção decorre também numa dimensão histórica, com elementos da História da Europa e do Mundo que constam em qualquer manual escolar, e por esse motivo, e pela forma como está escrito, denuncia uma realidade que não é a nossa mas que o parece.
Mais para mais, esta é uma das particularidades mais interessantes do romance, já que aliando a esse facto, a autora escreve o livro como se tratasse de uma crónica documental da vida destas personagens, apelando a uma veracidade que não existe mas que não nos convence.
É aliás, a existência de várias notas de rodapé (que por vezes ocupam metade das páginas, se prolonga para as seguintes, e contam notas paralelas), que ajudam a intrincar a teia que compõe este romance.
Quando aos elementos mágicos, eles têm algo de sinistro e macabro, assim como ameaçador. Esperaria que o Rei da Magia fosse um tipo diferente de vilão (se é que ele se enquadra bem no seu papel), mas a sua personagem ajuda a compor este mundo de brumas e incerteza, sendo também a ponte para se criarem as metáforas necessárias para chamar a atenção dos comuns mortais que, tudo o que advenha com facilidade traz custos (alguns elevados) que têm de ser bem medidos antes de qualquer tomada de decisão e iniciativa.
É uma leitura densa, as personagens não são simples, mas vale a pena o investimento.
As descrições são bastante reais, os detalhes explorados com vigor e a relação de cada peça do puzzle montada com a subtileza necessária para criar vários enlaces e nos demonstrar como seria o nosso mundo se nele existisse a magia do Sr. Norrell e do Jonathan Strange.



 
Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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