Uma Mulher Respeitável,
de Célia Correia Loureiro
Edição/reimpressão: 2016
Páginas: 320
Editor: Marcador
Resumo: No Portugal das guerras
liberais e na irlanda ferida pela cólera, duas mulheres lutam para
cumprir os seus sonhos e vingar as suas ofensas.
1831. Pouco depois de se casar, a sorte do conde de Cerveira sofre um revés. Uma série de infortúnios deixam-no à beira da ruína financeira, e não demora muito para que comece a desconfiar dos intentos da estranha de beleza intrigante que desposou. Perante a dúvida, decide enviar Leonor Sanches para um exílio temporário junto do tio, que ensina na prestigiada Trinity College, em Dublim. Conforme a epidemia de cólera vai ceifando as vidas de cristãos e anglicanos na Irlanda, também o coração de Leonor Sanches se oferece à tragédia.
1857. Cinquenta anos depois de perder o seu bem mais precioso para as tropas de Napoleão, Mariana Turner sente que está a um passo de descobrir toda a verdade sobre os acontecimentos de Março de 1809. Novas revelações apontam para que a condessa de Cerveira, encarcerada no Porto, seja a chave para resolver o mistério. Munida de uma determinação inabalável, tudo fará para conseguir deslindar o passado de Leonor Sanches - fidalga e anjo caído.
Uma Mulher Respeitável é o novo romance histórico da autora de A Filha do Barão.
1831. Pouco depois de se casar, a sorte do conde de Cerveira sofre um revés. Uma série de infortúnios deixam-no à beira da ruína financeira, e não demora muito para que comece a desconfiar dos intentos da estranha de beleza intrigante que desposou. Perante a dúvida, decide enviar Leonor Sanches para um exílio temporário junto do tio, que ensina na prestigiada Trinity College, em Dublim. Conforme a epidemia de cólera vai ceifando as vidas de cristãos e anglicanos na Irlanda, também o coração de Leonor Sanches se oferece à tragédia.
1857. Cinquenta anos depois de perder o seu bem mais precioso para as tropas de Napoleão, Mariana Turner sente que está a um passo de descobrir toda a verdade sobre os acontecimentos de Março de 1809. Novas revelações apontam para que a condessa de Cerveira, encarcerada no Porto, seja a chave para resolver o mistério. Munida de uma determinação inabalável, tudo fará para conseguir deslindar o passado de Leonor Sanches - fidalga e anjo caído.
Uma Mulher Respeitável é o novo romance histórico da autora de A Filha do Barão.
Comentário: Tenho acompanhado o percurso literário da Célia Loureiro há já algum tempo, embora "Uma Mulher Respeitável" tenha sido a minha estreia com a autora. Este livro segue a história originalmente trazida para os leitores em "A Filha do Barão", o que decerto pode tornar a leitura deste segundo volume mais rica, embora não impeça que seja lido como romance independente.
Conhecer os autores de um livro de antemão pode ser um desafio acrescido, mais não seja porque temos algumas expectativas sobre eles e porque há sempre elementos das suas personalidades que se derramam pelos trabalhos desenvolvidos (nem que seja pelo cuidado e pelo tratamento narrativo), pelo que criamos expectativas à luz da imagem que temos das pessoas (mesmo que possa ser um exercício incoerente e incorrecto).
Para mim, a Célia é uma mulher de alma antiga num corpo jovem, que se coaduna com uma narrativa que nos traz uma certa melancolia transfigurada em construções agridoce, mas ricas em pormenores, pensamentos, ilustrações de um quadro de época e de uma enorme humanidade.
Ainda assim, e talvez por já ter lido excertos de outras obras suas, ou mesmo desta (mediante frases que a autora ia partilhando aqui e ali online), faltou-me um certo arrebatamento mais premente que me fizesse sentir parte de uma narrativa dilacerante. Porque o enredo não deixa de o ser, de facto.
Escrito sobre forma de um mosaico temporal, em constantes analepses e saltos temporais, há uma manta de retalhos reconstruída passo a passo para decifrar um mistério, sob a forma de uma figura feminina, com várias facetas e momentos de descoberta.
A interação de todas as personagens, com discursos tidos como aproximados à época, transportam o leitor para o séc. XIX num ápice, numa pequena imensidão de momentos e histórias pessoais. No entanto, esta personagem principal, esta mulher respeitável, nunca deixa de brilhar em cada página, levando-nos a querer descobri-la um pouco mais.
Confesso que apesar de tudo, as revelações não me foram uma surpresa (com a excepção da última, de facto completamente inesperada), pelo que não consigo discernir se porque a construção do enredo o facilitou para o leitor porque não estar bem desenvolvido, se por acção propositada da autora para causar um maior choque com o final.
Há um certo deslumbramento definido pela crónica de costumes, pelas interacções de duas realidades culturais trazidas por Portugal e pela Irlanda, pelos segredos e mistérios de personagens secundárias, e pelas referências históricas que situam as acções num tempo e espaço real que contribuem para uma leitura bastante agradável e algo compulsiva.
Faltou-lhe talvez um momento final mais premente, ainda que exista outro livro que se deverá seguir a esta narrativa, uma vez que a dimensão do passado acaba por ficar bem resolvida e encerrada, esfumaçando a presente para um nível inferior.
Ainda assim, "Uma Mulher Respeitável" tem a vantagem de ser um livro bastante comercial, capaz de agradar a leitores de romance feminino e de ficção histórica, mas também de romances contemporâneos, pois a maior evidência, e o que realmente se destaca neste livro, são as reacções e as relações humanas, entre pares, e todos os sentimentos e consequências que cada uma delas acarreta. Terei de inverter o processo e procurar "A Filha do Barão" em breve! ;)
Conhecer os autores de um livro de antemão pode ser um desafio acrescido, mais não seja porque temos algumas expectativas sobre eles e porque há sempre elementos das suas personalidades que se derramam pelos trabalhos desenvolvidos (nem que seja pelo cuidado e pelo tratamento narrativo), pelo que criamos expectativas à luz da imagem que temos das pessoas (mesmo que possa ser um exercício incoerente e incorrecto).
Para mim, a Célia é uma mulher de alma antiga num corpo jovem, que se coaduna com uma narrativa que nos traz uma certa melancolia transfigurada em construções agridoce, mas ricas em pormenores, pensamentos, ilustrações de um quadro de época e de uma enorme humanidade.
Ainda assim, e talvez por já ter lido excertos de outras obras suas, ou mesmo desta (mediante frases que a autora ia partilhando aqui e ali online), faltou-me um certo arrebatamento mais premente que me fizesse sentir parte de uma narrativa dilacerante. Porque o enredo não deixa de o ser, de facto.
Escrito sobre forma de um mosaico temporal, em constantes analepses e saltos temporais, há uma manta de retalhos reconstruída passo a passo para decifrar um mistério, sob a forma de uma figura feminina, com várias facetas e momentos de descoberta.
A interação de todas as personagens, com discursos tidos como aproximados à época, transportam o leitor para o séc. XIX num ápice, numa pequena imensidão de momentos e histórias pessoais. No entanto, esta personagem principal, esta mulher respeitável, nunca deixa de brilhar em cada página, levando-nos a querer descobri-la um pouco mais.
Confesso que apesar de tudo, as revelações não me foram uma surpresa (com a excepção da última, de facto completamente inesperada), pelo que não consigo discernir se porque a construção do enredo o facilitou para o leitor porque não estar bem desenvolvido, se por acção propositada da autora para causar um maior choque com o final.
Há um certo deslumbramento definido pela crónica de costumes, pelas interacções de duas realidades culturais trazidas por Portugal e pela Irlanda, pelos segredos e mistérios de personagens secundárias, e pelas referências históricas que situam as acções num tempo e espaço real que contribuem para uma leitura bastante agradável e algo compulsiva.
Faltou-lhe talvez um momento final mais premente, ainda que exista outro livro que se deverá seguir a esta narrativa, uma vez que a dimensão do passado acaba por ficar bem resolvida e encerrada, esfumaçando a presente para um nível inferior.
Ainda assim, "Uma Mulher Respeitável" tem a vantagem de ser um livro bastante comercial, capaz de agradar a leitores de romance feminino e de ficção histórica, mas também de romances contemporâneos, pois a maior evidência, e o que realmente se destaca neste livro, são as reacções e as relações humanas, entre pares, e todos os sentimentos e consequências que cada uma delas acarreta. Terei de inverter o processo e procurar "A Filha do Barão" em breve! ;)
Cláudia
Sobre a autora:
Maratonista
de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o
Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do
voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.
Olá Cláudia,
ResponderEliminarTenho muita curiosidade em ler livros da Célia. Antes de ler este vou ler A Filha do Barão do qual oiço muito bem.
Beijinhos e boas leituras