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Os Altos e Baixos do Meu Coração, de Becky Albertalli




Os Altos e Baixos do Meu Coração
de Becky Albertalli
 
Edição/reimpressão: 2018
Páginas: 288
Editor: Porto Editora
  


 

Sinopse: 
Aos 17 anos, Molly sabe tudo o que há para saber sobre o amor não correspondido. É que a jovem já se apaixonou 27 vezes, mas sempre em segredo. E por mais que a irmã gémea, Cassie, lhe diga para ter juízo, Molly tem sempre cuidado. É melhor ter cuidado do que sofrer.
Quando Cassie se apaixona, a sua nova relação traz um novo círculo de amigos. Dele faz parte Will, que é engraçado, namoradeiro e um excelente candidato a primeiro namorado da Molly.
Mas há um problema: o colega de Molly, Reid, um cromo e fã incondicional de Tolkien, por quem ela jamais se apaixonaria… certo?
Uma história divertida e comovente sobre primeiros amores e a importância de sermos fiéis a nós mesmos.


Rating: 4/5
Comentário: Becky Albertalli, quem me dera que tivesses escrito estes livros quando eu era adolescente. Porque acredita, teriam feito toda a diferença.
Estou a escrever-vos esta opinião com a companhia dos Florence and The Machine, aproveitem para os ouvir quando lerem este livro, porque é decididamente a sua banda sonora (vão descobrir porquê).
Li "Os Altos e Baixos do Meu Coração" num ápice, durante a tarde de hoje, porque precisava de uma leitura descontraída depois de umas semanas algo tumultuosas. Quando o acabei, fiquei cheia de vontade de partilhar convosco o porquê de não poderem perderem este livro (no caso de serem fãs de YA), e podem crer que me deito com o coração quentinho.
Julgo que nem a sinopse original nem esta fazem jus ao enredo. Porque sim, é sobre a Molly e sobre o seu coração palpitante; mas é muito mais do que isso. Porque todos os livros desta autora se debruçam essencialmente sobre uma necessidade primária de todos: a aceitação e a inclusão, seja ela resultante de que factor estiver em causa.
Não me vou debruçar sobre o conceito inclusivo, porque tal como a autora não lhe dá evidência (porque é uma coisa banal, é suposto ser uma coisa banal, estamos em pleno século XXI para os mais distraídos), também não o vou fazer. Um casal de mães, filhos por procriação assistida ou famílias judias e interraciais? São coisas que deveriam estar assentes nos nos alicerces societais. Por isso todos estes elementos são contextualizações para quem são a Cassie e a Molly, mas não os assuntos em destaque.
Então o que é que discute aqui? A aceitação. A auto-induzida e a vinda do mundo exterior, que muitas vezes é o principal factor a deixar-nos desconfortáveis na nossa pele, mesmo quando achamos que estamos bem e não precisamos de "arranjos".  A idade encarrega-se de nos ensinar estas coisas, mas a adolescência é um período especialmente difícil e todos os factores que nos fazem sentir desconectados, pertencentes a uma outra realidade, incapazes de assentar e fazer parte da maioria levam o ser humano mais confiante a colocar-se em causa.
Molly aborda muitas destas questões na forma como se sente: não descontente com o seu corpo, mas com o que os outros esperam dela por causa disso, não descontente com quem é, mas com medo que isso não chegue para não ser rejeitada pelos alvos do seu afecto, feliz pelo sucesso da irmã, mas incapaz de lidar com o seu pouco à-vontade nas situações onde ela é rainha (e na verdade não é, sendo tão frágil e sensível como a sua gémea), não descontente com os seus talentos, mas que lhe parecem tão banais ao pé de tantos jovens mais artísticos, destemidos, desenvolvidos e com objectivos claros.
Há vários assuntos que esta autora aborda, e que nunca vi abordados desta forma em nenhum livro YA que tenha lido até ao momento. Dou-vos como exemplo as dúvidas que podem assolar os adolescentes quando se vêem alvo de afecto, mas também inspirando-se no afecto que vêm no outro que não encaixa no dito padrão que a sociedade aceita. Para além do risco de abrir o coração e de ter a hipótese de o quebrar, se alguém escolhe como alvo de afecto "um falhado", um "elemento fora da caixa", o que é que isso diz de si? Serão também "falhados"?
Não se tratando de uma questão certa ou errada, o que a autora faz é relembrar-nos da fragilidade e exposição que a adolescência nos deixou/ deixa a todos e o quanto o mundo envolvente pode ser cruel (mesmo quando é bem intencionado) ao ditar-nos padrões aos quais não podemos ou não devemos escapar. E que para além disso, mesmo quando não queremos ou não somos os mais indicados para os seguir, nos perseguem precisamente por evidenciarmos a diferença.
E se existem jovens a ler este texto, vou deixar clara a mensagem da Becky: não há nada errado convosco. Se o mundo não vos aceita, o problema é dele, não vosso. Hão-de encontrar as pessoas certas que vos respeitem tal e qual já são, porque elas também já andam à vossa procura.
Não me revi nesta adolescente, mas sim em muitos dos seus pensamentos quando tinha a sua idade. É uma das características da Becky Albertalli: lembrar-nos que também um dia já fomos adolescentes (ou no caso dos leitores ainda o serem, de que há por aí outros iguais). Molly é intensa, e com um coração enorme, amada e capaz de reagir nos momentos indicados aos problemas que lhe assistem, mas também nervosa, insegura, ciumenta, engraçada, melhor amiga, irmã, filha, namorada. Mas é essencialmente a Molly.
Claro que não posso descurar ou passar em branco o romance. A autora sabe sempre tocar-nos no ponto fraco e trazer histórias ternurentas e cheias de palpitações, sonhos, agitação e desejo. Desejo que seja desta que a personagem tenha o seu final feliz, que dê tudo certo, que a vulnerabilidade dê recompensa. Que prevaleça a coragem, o amor, a amizade e o respeito mútuo. Que os adolescentes aprendam com bons exemplos. Que se revejam nos seus pares. E a Molly, no seu percurso lento, estudado, arriscado, e sempre sonhador, traz-nos todas as boas sensações sobre o que é estar apaixonado e ser-se correspondido, mesmo que o seu coração ande aos altos e baixos. Só me apetece relê-lo de novo. Como já disse ao início, deito-me de coração cheio.

 
Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

Comentários

  1. Nunca li nada desta autora, mas vi o filme "Love, Simon" há algumas semanas e adorei. Fiquei com imensa vontade de conhecer também o livro. Gostei muito da tua opinião deste livro! Fiquei com imensa vontade de o ler :)
    Boas leituras :)

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    Respostas
    1. Olá Kel, ainda tenho o filme para ver mas estou muito curiosa. Se depois leres este, deixa-nos aqui a tua opinião. Gosto sempre de saber a opinião de quem nos lê :) Boas leituras!

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