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Opinião: Chama-me pelo Meu Nome, André Aciman



Chama-se Pelo Teu Nome
André Aciman
 
Edição/reimpressão: 2018
Páginas 284
Editor: Clube do Autor
  





Sinopse: 
Na idílica Riviera italiana nasce um romance intenso entre um rapaz de dezassete anos e o convidado dos pais, um estudante universitário que irá passar com eles umas semanas no verão.

A mansão sobre as falésias é povoada por um conjunto de personagens excêntricas, com um gosto especial pela boa vida. Mas nenhum dos jovens está preparado para as consequências da atração, que, durantes essas apaixonadas semanas de calor, mar e vinho, faz crescer entre eles o fascínio e o desejo, sentimentos que não conseguem suprimir, apesar de todas as proibições e dos perigos.

Divididos entre o receio das consequências e o fascínio que não conseguem esconder, avançam e recuam movidos pela curiosidade, o desejo, a obsessão e o medo, até se deixarem levar por uma paixão arrebatadora e descobrirem uma intimidade rara que temem nunca mais encontrar. 

Chama-me Pelo Teu Nome não é só uma história intemporal, é também uma análise franca, bela e dura sobre a paixão – como agimos, pensamos e sentimos. Uma elegia ao amor e um livro inesquecível.

Rating: 3/5
Comentário: Independentemente de gostarem ou não deste livro, é daqueles que de entranha na pele e todos o comentam. Confesso que já o terminei há algum tempo mas precisei de o processar para escrever uma opinião articulada. Como disse, as reacções tendem a ser antagónicas, mas quando o terminei senti que não estava para o oito, nem para o oitenta (e como tal, compreendia o porquê do livro ser acarinhado mas concordava também com os argumentos de quem não ficou fascinado pelo mais recente livro de André Aciman publicado em Portugal). Por isso mesmo senti necessidade de procurar um e outro lado da fasquia para discuti-lo.
"Chama-me pelo Meu Nome" recolhe-nos para os verões em Itália na década de 80, e é em parte uma personificação do idílico de verão que todos tivemos um dia (se é que ainda não o mantemos): os ares mediterrânicos, a praia e a gastronomia, o prazer de comer enquanto se sente o sol na pele, o enrolado do idioma italiano saboreado numa terra pequena, onde a familiaridade permite o aconchego do regresso mas é também um policiamento de condutas (contrariadas pelos nichos das falésias na praia e recantos junto a arvoredos e pomares). Sente-se o calor, o "dandismo",  o calcorrear despreocupado que só o verão pode pedir.
A isto acrescente-se o facto da família de Elio, o protagonista de 17 anos, pertencer ao mundo académico das Humanidades. Esta camada traz-nos todas as nuances da arte, da exploração dos idiomas, do conhecimento de escritores, filósofos, pintores e escultores, da música e da História, tudo inter conectado em conversas debaixo de lua pelo serão fora. Conseguem recriar a imagem?
É neste contexto que Elio nos apresenta quem é, como interage com o seu ambiente e quais são as angústias, tão adolescentes mas também adultas, que convulsionam o seu bem-estar.
Antes de enveredar pela análise do enredo principal, queria abordar o estilo do autor. É extremamente sensorial e cheio de nuances, apelando a todos os sentidos que temos através do canal da imaginação. Em algumas passagens achei-a quase que poética, lírica, e dedilhada com minúcia e delicadeza.
Dei por mim várias vezes enlevada, a seguir o raciocínio do autor quase que desligada da realidade. O problema é quando esse embalar era quebrado por algum calão pontual ou pelos pensamentos do Elio, que repentinamente se tornavam retorcidos para mim e até a meu entender desnecessários para o construir da narrativa.
Como a sinopse já subentende, vamos falar de amor, ou é essa a intenção de Aciman. Pegando no pressuposto que duas pessoas diferentes e de idades diferentes podem encontrar-se no momento certo e desenvolver um momento apoteótico e de enorme respeito e amor entre si, o autor traz-nos o desenrolar da relação de Elio e de Oliver, um académico convidado pelos pais do rapaz para passar uma temporada na sua casa e progredir o seu projecto de doutoramento.
Apesar de todo este nível de abertura, não é possível esquecer que o enquadramento temporal é a década de 80 em Itália, e numa Itália rural apesar de todos os pressupostos mais boémios e culturais que possam estar associados  à sua casa, mas que não seguem os padrões da comunidade local. O que perfaz que ao mesmo tempo que o discurso  impute uma incitação à liberdade, à descoberta da paixão e da sensualidade, também existe um elemento castrador, até imposto pelo próprio Elio.
Em muitas passagens, pela forma quase venérea como é escrito, deu-se-me muitas vezes a sensação de estar a ler uma fantasia reprimida, autobiográfica, uma paixão não realizada do autor. A não ser verdade, a intensidade da narrativa só revela ainda mais mestria.
Mas se tudo é positivo, qual o motivo porque disse entender as opiniões menos boas? Porque me apaixonei por tudo no livro, menos pelo que lhe dá forma - o romance, que para mim tem tudo menos romance.
Não sei se o desalento tenha a ver com estar na cabeça de um rapaz de 17 anos, ou se porque sempre fui uma pessoa mais de amores maduros e duradouros do que de paixões avassaladores e vorazes. Provavelmente teria preferido muito mais ouvir a voz do Oliver e conhecer os seus dilemas interiores porque as nuances que nos são transmitidas da sua personalidade despertam o interesse. Já Elio revela-se somente obcecado, de uma forma de ronda ali uma enorme instabilidade que não me convence como um comportamento normal ou padronizado de um adolescente da sua idade.
Senti falta da construção da relação, dos momentos passados a dois a estabelecer a intimidade, já que esses são referidos como factos mas não explorados ao momento, deixando em evidência a entrega à paixão e à vida sexual, mas de uma forma pujante que inibe o restante universo. O que não seria um problema tratando-se de um caso de verão, mas a história é sempre vendida pelo autor e pelas suas personagens como um amor, que com os seus contornos se prolongou para a vida, à sua maneira.
É precisamente por causa disso e de uma certa imiscuição no texto de um tom de incumprimento, frustração e saudosismo de um momento perdido ou que nunca aconteceu, que revejo uma vontade do autor em encontrar algo perdido, um voto de retratação com o passado. Talvez por isso não tenha dado tanto espaço na narrativa para os momentos do quotidiano e da sua vivência em férias, uma vez que os factos vividos já encaixam no seu puzzle interior, evidenciando as peças soltas que lhe faltavam para terminar a sua narrativa interior. Quer tenha sido um projecto de auto conhecimento e introspecção ou não, a história por si não me convenceu.
De qualquer forma, todos me dizem que o livro é um bom complemento ao filme (embora geralmente devesse ser o contrário) pelo que aguardo vê-lo em breve e ver se já me rendo mais à história de Elio e Oliver.







Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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