Half Bad – Entre o Bem e o Mal
de Sally Green
Edição/reimpressão: 2014
Páginas: 320
Editor: Editorial Presença
Resumo:
Na Inglaterra dos nossos dias, bruxos e humanos vivem aparentemente
integrados. Na realidade, os bruxos têm a sua própria sociedade secreta,
as suas regras e a sua guerra, que divide os Bruxos Brancos,
considerados «bons», e os Bruxos Negros, odiados e perseguidos pelos
Brancos. O herói, Nathan, é filho de uma Bruxa Branca e de um Bruxo
Negro e, portanto, considerado perigoso. Nathan é constantemente vigiado
pelo Conselho dos Bruxos Brancos desde que nasceu e aos 16 anos é
encarcerado e treinado para matar. Mas Nathan sabe que tem de fugir
antes de completar 17 anos e a sua determinação é inabalável. Este é o
romance de estreia de Sally Green e o primeiro volume de uma nova
trilogia do género fantástico.
Comentários
Cláudia:3/5
Já há algum tempo que um livro não me era tão difícil de decifrar, ou melhor, de decifrar o que sinto em relação a ele. E porque isso não é necessariamente mau, esta opinião terá de ser feita camada a camada porque é a única forma de o abordar.
Vou começar por falar da escrita da autora, muito diferente do que tenho lido ultimamente, e definitivamente uma lufada de ar fresco. Existe uma constante altercação de posições e modelos discursivos, o que ao início parece um pouco estranho e pode provocar alguma dificuldade de ajustamento, mas que rapidamente assumimos como uma característica do estilo narrativo de Sally Green e passamos a encará-lo com outros olhos. Para começar, apercebi-me de que é um tudo ou nada irritante comunicar com alguém sobre uma experiência pessoal, remetendo para a 2º pessoa do singular dos tempos verbais (exemplo: "tu levantas-te" em vez de "eu levantei-me"). Por vezes tenho esse hábito quando retracto cenários hipotéticos e nunca ninguém teve a coragem de me dizer que deveria pararo. Sei-o agora e vou-me esforçar para isso. Voltando ao livro, quando finalmente nos começamos a habituar, dá-se uma reviravolta e a mesma personagem aborda-nos segundo uma diferente forma. A parte mais interessante é que determina várias passagens temporais ou associadas a diferentes locais, e surgem-nos quase como uma passagem de crescimento ou pelo menos, de avanço na narrativa. Dou a mão à palmatória à autora, porque neste aspecto, ela foi de facto inovadora e trouxe algo de novo para um livro com uma estória minimamente banal. Considero-o um ponto forte, porque ela soube utilizá-lo com peso e medida, e enquadrar a sua narrativa neste estilo diferente. Não fosse esse factor,e à semelhança de outros livros que o tentaram fazer, não iria certamente sentir-me muito satisfeita.
Vou começar por falar da escrita da autora, muito diferente do que tenho lido ultimamente, e definitivamente uma lufada de ar fresco. Existe uma constante altercação de posições e modelos discursivos, o que ao início parece um pouco estranho e pode provocar alguma dificuldade de ajustamento, mas que rapidamente assumimos como uma característica do estilo narrativo de Sally Green e passamos a encará-lo com outros olhos. Para começar, apercebi-me de que é um tudo ou nada irritante comunicar com alguém sobre uma experiência pessoal, remetendo para a 2º pessoa do singular dos tempos verbais (exemplo: "tu levantas-te" em vez de "eu levantei-me"). Por vezes tenho esse hábito quando retracto cenários hipotéticos e nunca ninguém teve a coragem de me dizer que deveria pararo. Sei-o agora e vou-me esforçar para isso. Voltando ao livro, quando finalmente nos começamos a habituar, dá-se uma reviravolta e a mesma personagem aborda-nos segundo uma diferente forma. A parte mais interessante é que determina várias passagens temporais ou associadas a diferentes locais, e surgem-nos quase como uma passagem de crescimento ou pelo menos, de avanço na narrativa. Dou a mão à palmatória à autora, porque neste aspecto, ela foi de facto inovadora e trouxe algo de novo para um livro com uma estória minimamente banal. Considero-o um ponto forte, porque ela soube utilizá-lo com peso e medida, e enquadrar a sua narrativa neste estilo diferente. Não fosse esse factor,e à semelhança de outros livros que o tentaram fazer, não iria certamente sentir-me muito satisfeita.
Entrando no enredo, acho que existem várias situações pouco exploradas que me fizeram sentir toda a construção de personagens algo estranha. Em primeira instância, o cenário envolvente é completamente marginalizado (o que me deu a sensação das personagens flutuarem no vazio por diversas vezes). O que quero dizer com isto é que a própria sinopse descreve na primeira frase tratar-se de uma estória da "Inglaterra dos nossos dias", mas este livro tanto poderia ter ocorrido no Reino Unido como num país qualquer, porque nunca há uma descrição mínima de lugares, de aspectos culturais, de qualquer coisa palpável que nos faça sentir esse espaço. Por outro lado, vivendo lado a lado com uma comunidade não mágica (e não num mundo à parte ao estilo do Harry Potter), acho um pouco irrealista que as personagens não saibam lidar com alguns objetos banais do quotidiano. Numa outra instância, a questão da magia é subvalorizada de tal forma que nem damos quase que por ela. Ou melhor, falamos dela mas raramente a presenciamos e embora perceba o enfoque dado à narrativa (que explicarei em seguida), senti que tanto poderíamos estar a falar de uma comunidade mágica como de uma seita, e acho que falta um factor mais preponderante nesse sentido.
Quanto às restantes temáticas, o fantástico entrecruza-se com o thriller em diversas ocasiões, gerando uma aura de mistério e tensão que nos faz continuar a leitura com uma certa ansiedade e apreensão com os próximos desenvolvimentos. As relações entre as personagens avivam ainda mais esse sentimento, e a construção das suas relações só serve para o acentuar. As constantes proibições e legislações de um Conselho que se diz benemérito mas esconde uma faceta ditadora e implacável, a ausência de um colo de consolo permanente e da necessidade constante de desconfiar da própria sombra, o controlo ao mais pequeno passo, tudo nos traz para uma realidade perigosa, frágil, difícil de digerir. Na contracapa surge a citação da Once Upon a Time Bookstore que descreve este livro como «Half Bad - Entre o Bem e o Mal é uma alegoria cativante sobre o racismo, o amor e o destino» e acho que esta é de facto uma breve mas fiel descrição. A relação do destino, do preconceito levado ao limite, do ódio por si gerado está sempre patente. O discurso associação a todas estas questões é ainda muito cru, por vezes com uma certa irascibilidade, mas também bastante directo. O frágil equilíbrio entre o branco e o negro, a luz e a escuridão, a bondade e a crueldade, a confiança e o amor pelo desprezo profundo, pela mentira e injúria e pelo ódio existe em todas as páginas. No fundo, é um livro bastante mais adulto do que esperava inicialmente, o que não se depreende pela sinopse. Foi sem dúvida uma surpresa, dado o desajuste das minhas expectativas iniciais.
Quanto às restantes temáticas, o fantástico entrecruza-se com o thriller em diversas ocasiões, gerando uma aura de mistério e tensão que nos faz continuar a leitura com uma certa ansiedade e apreensão com os próximos desenvolvimentos. As relações entre as personagens avivam ainda mais esse sentimento, e a construção das suas relações só serve para o acentuar. As constantes proibições e legislações de um Conselho que se diz benemérito mas esconde uma faceta ditadora e implacável, a ausência de um colo de consolo permanente e da necessidade constante de desconfiar da própria sombra, o controlo ao mais pequeno passo, tudo nos traz para uma realidade perigosa, frágil, difícil de digerir. Na contracapa surge a citação da Once Upon a Time Bookstore que descreve este livro como «Half Bad - Entre o Bem e o Mal é uma alegoria cativante sobre o racismo, o amor e o destino» e acho que esta é de facto uma breve mas fiel descrição. A relação do destino, do preconceito levado ao limite, do ódio por si gerado está sempre patente. O discurso associação a todas estas questões é ainda muito cru, por vezes com uma certa irascibilidade, mas também bastante directo. O frágil equilíbrio entre o branco e o negro, a luz e a escuridão, a bondade e a crueldade, a confiança e o amor pelo desprezo profundo, pela mentira e injúria e pelo ódio existe em todas as páginas. No fundo, é um livro bastante mais adulto do que esperava inicialmente, o que não se depreende pela sinopse. Foi sem dúvida uma surpresa, dado o desajuste das minhas expectativas iniciais.
Quanto às personagens, Nathan é um anti-herói: não é bonito, nem destemido, nem corajoso. Não é inteligente nem popular nem cativante. Sofre horrores que certamente nos compadecem, porque ninguém deveria passar e sentir na pele a sua realidade, mas não gera empatia ou grandes laços com o leitor. Se acompanhamos a sua aventura, é sempre no desejo que algo positivo se transforme na sua vida, mas que com isso também o transforme a ele numa pessoa pessoa melhor.
A ligação com a família também não nos ajuda a compreendê-lo mais além, embora explique e justifique a sua relação com o mundo exterior. Esta avó quase incógnita, presente para os netos mas nem por isso uma figura de poder (e bastante fugidia) leva-nos a questionar o seu papel por diversas vezes. De todos, gostei do Arran, talvez porque as poucas páginas onde o mesmo apareceu (e à semelhança do que sentia Nathan) foram as únicas que nos deixaram verdadeiramente respirar e aliviar a tensão, sendo a sua pureza um pouco contagiosa. Este factor percebe-se e persegue-nos porque Nathan está rodeado por pessoas odiosas, que o detestam, que são cruéis, que o destratam e que no fundo, o conduzem a apenas mais um dia de uma existência pouco esperançosa (pelo menos até o desejado e suposto aparecimento de um pai que ele idolatra, ainda que nem saiba se poderão sobreviver na presença um do outro).
Gostei mais deste livro a partir da terceira parte (está dividido em seis) e do aparecimento de mais personagens, que nos criaram pontes para o mundo exterior e nos trouxeram novos pontos de vista e pequenas narrativas que acabaram por disfarçar o tal cenário branco por trás das relações das personagens.
Este livro é sem dúvida diferente, bastante original, com palavras de poder patentes e com uma realidade muito vivida, facilmente transponível para o nosso mundo, em qualquer outro contexto. E talvez o motivo pelo que nos é impossível descontrair para o ler surja desse alerta permanente, dessa ilusão tão real que nos aflora à pele e nos diz que este livro não trata tanto de ficção como quer parecer. Julgo que tão cedo não me refaço dele, o que só quer dize que deixou marca. E se quando o terminei não fiquei profundamente impressionada (talvez porque não tenha sido o momento certo para o ler), ao escrever esta opinião e já depois de assentar ideias e reflectir sobre ele, notei uma série de nuances que não me foram tão claras à altura e deixaram presente uma impressão acentuada.
Catarina: 2/5
Por vezes aparecem livros dos quais esperamos muito e que acabam por nos dar muito pouco, infelizmente para mim este foi o caso de Half Bad.
Com uma premissa bastante interessante e um lançamento a nível mundial, a história despertou-me imensa curiosidade e mal podia esperar para lê-lo. No entanto, à medida que as páginas andavam o meu entusiasmo desapareceu. Não consegui gostar de Nathan como personagem, nem da sua família, todo o seu arco amoroso me pareceu estranho e um pouco forçado. O Conselho só me deu raiva e sinceramente estava a contar as páginas para que Nathan pegasse fogo ao mesmo.
Outra coisa que me aborreceu no desenlaçar da história foi o facto da magia ter supostamente um papel importante mas aparecer tão pouco. Afinal, a magia é o que leva a todo o desenlace, é o facto do Nathan ser meio mago negro, meio mago branco que suscita toda a aventura e mesmo assim, nas primeiras duzentas páginas mal ouvimos falar em magia. Falam-nos um pouco em poções e nos poderes de vários bruxos, os de Jessica são interessantes, mas mal vemos a magia em acção. Seria como se, por exemplo, em toda a saga de Harry Potter a magia fosse muito subtil, ou praticamente não aparecesse. Para mim, acho que foi isso que acabou por lentamente matar a história.
Outra coisa que me irritou na personagem principal foi o facto de Nathan, um mago supostamente poderoso, assim como a sua família, ser sempre controlado através dos jogos psicológicos do Conselho. Claro que compreendo perfeitamente que é psicologia aliada à força da magia mas mesmo assim, a magia acaba por ter um lugar extremamente irrelevante.
Apesar de ter gostado da maneira de escrever de Sally Green, que fez com que as páginas se virassem quase sozinhas, tenho a dizer que a única coisa que achei apelativa neste mundo foi a noção que as bruxas são sempre mais poderosas que os bruxos, visto que ligam a magia à natureza e às fases da lua. Mesmo assim a história fica muito aquém do que esperava, nada é explicado, nem o mundo, nem de onde veio a magia, nem como a magia funciona. Mesmo toda a batalha entre os bruxos, supostamente os Bruxos Negros são maus mas os Brancos parecem, perdoem-me o meu francês, mais maus que os Negros e sinceramente, um bocado anti-semitas.
Para terminar achei que o livro tinha imensa violência gratuita, durante as primeiras cento e muitas páginas e peço desculpa pelo spoiler, o Nathan é queimado, espancado, esfaqueado e mais um sem fim de coisas, repetidamente. Pareceu-me que pelo menos uma vez por capítulo ele foi encontrado inconsciente pelo irmão.
A verdade Encruzilhados é que eu queria gostar deste livro, juro que queria, mas além de coisas que me pareceram um pouco cópia do universo de Harry Potter e que já desconto em todos os livros de magia, nada no livro me cativou.
«Estas e outras novidades no site da Editorial Presença aqui»
Outra coisa que me aborreceu no desenlaçar da história foi o facto da magia ter supostamente um papel importante mas aparecer tão pouco. Afinal, a magia é o que leva a todo o desenlace, é o facto do Nathan ser meio mago negro, meio mago branco que suscita toda a aventura e mesmo assim, nas primeiras duzentas páginas mal ouvimos falar em magia. Falam-nos um pouco em poções e nos poderes de vários bruxos, os de Jessica são interessantes, mas mal vemos a magia em acção. Seria como se, por exemplo, em toda a saga de Harry Potter a magia fosse muito subtil, ou praticamente não aparecesse. Para mim, acho que foi isso que acabou por lentamente matar a história.
Outra coisa que me irritou na personagem principal foi o facto de Nathan, um mago supostamente poderoso, assim como a sua família, ser sempre controlado através dos jogos psicológicos do Conselho. Claro que compreendo perfeitamente que é psicologia aliada à força da magia mas mesmo assim, a magia acaba por ter um lugar extremamente irrelevante.
Apesar de ter gostado da maneira de escrever de Sally Green, que fez com que as páginas se virassem quase sozinhas, tenho a dizer que a única coisa que achei apelativa neste mundo foi a noção que as bruxas são sempre mais poderosas que os bruxos, visto que ligam a magia à natureza e às fases da lua. Mesmo assim a história fica muito aquém do que esperava, nada é explicado, nem o mundo, nem de onde veio a magia, nem como a magia funciona. Mesmo toda a batalha entre os bruxos, supostamente os Bruxos Negros são maus mas os Brancos parecem, perdoem-me o meu francês, mais maus que os Negros e sinceramente, um bocado anti-semitas.
Para terminar achei que o livro tinha imensa violência gratuita, durante as primeiras cento e muitas páginas e peço desculpa pelo spoiler, o Nathan é queimado, espancado, esfaqueado e mais um sem fim de coisas, repetidamente. Pareceu-me que pelo menos uma vez por capítulo ele foi encontrado inconsciente pelo irmão.
A verdade Encruzilhados é que eu queria gostar deste livro, juro que queria, mas além de coisas que me pareceram um pouco cópia do universo de Harry Potter e que já desconto em todos os livros de magia, nada no livro me cativou.
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