Ready Player One
Resumo:
Em 2044 o mundo tornou-se um lugar triste, devastado por conflitos, escassez de recursos, fome, pobreza e doenças.
Wade Watts só se sente feliz na realidade virtual conhecida como OASIS, onde pode viver, jogar e apaixonar-se sem constrangimentos.
Quando o criador do OASIS morre, deixa a sua imensa fortuna e o controlo da realidade virtual a quem conseguir resolver os enigmas que aí escondeu. Os utilizadores têm apenas como pistas a cultura pop dos anos 1980.
Começa assim uma frenética e perigosa caça ao tesouro. Nos primeiros anos, milhares de jogadores tentam solucionar o enigma inicial sem sucesso. Até que Wade por acaso desvenda a primeira chave.
De um momento para o outro, vê-se numa corrida desesperada para vencer o prémio, uma corrida que rapidamente continua no mundo real e que põe em risco a sua vida.
Ready Player One vai ser adaptado ao cinema por Steven Spielberg.
Comentário: "Ready Player One" acabou por se revelar uma das surpresas do ano e um dos que mais prazer tive em ler ao longo de 2016!
Eu confesso. Este livro não me era desconhecido quando chegou a Portugal. Já tinha ouvido várias pessoas a elogiarem o quão bom ele era, tanto a nível nacional como internacional. Recordo que gostei especialmente da opinião da Linda Inês do canal Marilyn Kidman (Youtube), mas que apesar de tudo não me convenceram a imergir nesta experiência. Foi o lançamento da Editorial Presença que voltou a despertar-me a atenção a este livro, atendendo a que se aproxima uma adaptação cinematográfica a cargo do Steven Spielberg. Para além disso, uma leitura mais atenta da sinopse denunciou a existência de uma série de referências aos anos 80 e foi a ignição necessária para querer saltar de cabeça para este livro.
O enredo é bem explicado na sinopse: num mundo desfeito e onde a esperança já não é vigente, existe o OASIS, uma iniciativa que começou como jogo de computador para prestação coletiva e que acabou por se transfigurar numa real experiência imersiva. Para melhor compreenderem este cenário, arrisco-me a fazer uma pequena descrição para contextualizar. OASIS acaba por ser uma porta aberta de oportunidades e de alternativas. Mais do que um substituto do mundo real, muitos vêem o contexto alterado e o mundo digital torna-se mais verdadeiro do que aquele onde o seu corpo existe. O OASIS permite ainda que algumas acções do mundo real passem a ser executadas através da plataforma: ir à escola online, trabalhar online, conhecer pessoas, sair à noite, casar online. Digamos que seria uma versão SIMS aumentada, onde cada um possuiu um avatar, o qual comanda em todas as funções que forem necessárias. De facto, a experiência desta plataforma é tão imersiva que numa escola os cacifos continuam a ser necessários para guardar material, o teletransporte paga-se como uma deslocação real, as salas de chatroom surgem como salas privadas para lazer onde se pode jogar videojogos, é possível contratar assistentes pessoais para apoiarem a gestão da vida pessoal online.
Isto só alguns exemplos mas que retratam o nível de pormenor e cuidado que Ernest Cline dedicou na construção deste mundo digital. Os pormenores, a estruturação do universo e o cuidado atribuído na sua construção tornam-se por vezes tão intensos que até o leitor se esquece que aquele não é de facto o mundo dito real, porque verdadeiro é certamente o outro.
Só por esse motivo, este livro foi capaz de captar a minha atenção e de me entusiasmar. Já pouco é novidade no mundo da literatura Young Adult, especialmente no que toca a universos distópicos, e é sempre um prazer imenso ser surpreendida e deparar-me com um vira-páginas, como não acontecia há muito.
A construção deste mundo vai ainda mais longe, levando-nos a imergir também, desculpem-me a redundância, na mentalidade daquela sociedade contemporânea. Deste modo, também o leitor dá por si a desvalorizar a realidade alternativa, o tal mundo desfeito do qual os seres humanos fogem. Não que o autor se tenha isentado de qualquer pormenor. Eles estão lá e ainda que não muito detalhados, são os suficientes para o enquadramento da narrativa. Mais do que isso, a transposição de um mundo para outro leva a que o leitor deixe para segundo plano o universo menos explorado, exactamente como qualquer ser humano neste livro.
Não posso deixar de referir a caça ao ovo, naturalmente, atendendo que esse é um dos pontos altos de toda a trama e que está extremamente bem constituída: tem acção, tem mistério e desafios, tem contratempos, tem aventuras que cheguem para um novo almanaque e adorei acompanhar par e passo estes momentos. Em jeito de sugestão tardia, ainda seria mais interessante se a narrativa criasse espaço para o leitor também pudesse equacionar e tentar adivinhar. No entanto, a personagem do James Halliday foi um mistério do início ao fim, propositadamente (para comprovar a dificuldade da caçada para os jogadores), pelo que o leitor é então remetido a mero espetador.
Uma das coisas que adorei foi o facto de não sermos efetivamente poupados a referências aos anos 80. Nascida na década seguinte, não conhecia todas e como tal fiquei interessada em procurar uma série delas. Naturalmente, e porque o tempo não se cinge na mudança de um calendário, vários dos ícones de 1980 acabaram por passar para a década seguinte e portanto foi interessante encontrar estes pontos de referência e saber exactamente sobre o quê se estava a falar e também o que estava em causa em cada momento quando essas indicações eram relevantes para o decorrer da narrativa.
Só estes elementos referidos já seriam suficientes para criar um enredo mais que preenchido. No entanto, e mais do que isso, este é um livro que coloca algumas questões de reflexão sobre a construção e vivência desta sociedade moderna futurista, sem no entanto ser moralista. De qualquer forma, são criadas condições para pensar no mundo real vs. mundo digital, no potencial das relações humanas e da confiança, na solidão inerente de viver somente atrás de um ecrã, na capacidade de ser altruista mesmo num mundo que pediria o contrário, no facto que não se existe realmente sem um suporte humano, sem o núcleo duro que nos faz reger emoções, sem alguém que nos potencie o melhor que temos mas que também chame a atenção quando precisamos de um puxão de orelhas, na força que uma crença em nós, a confiança ditada por outrem, tem para nos fazer sonhar e ir mais longe.
"Ready Player One" é um livro completo, onde não faltam referências aos videojogos, ao mundo dos anos 80, à amizade e à aventura, aliando-se a todos os aspectos já enumerados. Foi uma espectacular surpresa e deixou-me rendida. Aconselho vivamente a darem-lhe uma oportunidade.
Livro cedido pela Editorial Presença em troca de uma opinião honesta sobre a experiência de leitura. A editora não se responsabiliza nem detém qualquer influência no conteúdo apresentado na opinião.
«Estas e outras novidades no site da Editorial Presença aqui»
de Ernest Cline
Edição/reimpressão: 2016
Páginas: 416
Páginas: 416
Editor: Editorial Presença
Resumo:
Em 2044 o mundo tornou-se um lugar triste, devastado por conflitos, escassez de recursos, fome, pobreza e doenças.
Wade Watts só se sente feliz na realidade virtual conhecida como OASIS, onde pode viver, jogar e apaixonar-se sem constrangimentos.
Quando o criador do OASIS morre, deixa a sua imensa fortuna e o controlo da realidade virtual a quem conseguir resolver os enigmas que aí escondeu. Os utilizadores têm apenas como pistas a cultura pop dos anos 1980.
Começa assim uma frenética e perigosa caça ao tesouro. Nos primeiros anos, milhares de jogadores tentam solucionar o enigma inicial sem sucesso. Até que Wade por acaso desvenda a primeira chave.
De um momento para o outro, vê-se numa corrida desesperada para vencer o prémio, uma corrida que rapidamente continua no mundo real e que põe em risco a sua vida.
Ready Player One vai ser adaptado ao cinema por Steven Spielberg.
Rating: 4,5/5
Eu confesso. Este livro não me era desconhecido quando chegou a Portugal. Já tinha ouvido várias pessoas a elogiarem o quão bom ele era, tanto a nível nacional como internacional. Recordo que gostei especialmente da opinião da Linda Inês do canal Marilyn Kidman (Youtube), mas que apesar de tudo não me convenceram a imergir nesta experiência. Foi o lançamento da Editorial Presença que voltou a despertar-me a atenção a este livro, atendendo a que se aproxima uma adaptação cinematográfica a cargo do Steven Spielberg. Para além disso, uma leitura mais atenta da sinopse denunciou a existência de uma série de referências aos anos 80 e foi a ignição necessária para querer saltar de cabeça para este livro.
O enredo é bem explicado na sinopse: num mundo desfeito e onde a esperança já não é vigente, existe o OASIS, uma iniciativa que começou como jogo de computador para prestação coletiva e que acabou por se transfigurar numa real experiência imersiva. Para melhor compreenderem este cenário, arrisco-me a fazer uma pequena descrição para contextualizar. OASIS acaba por ser uma porta aberta de oportunidades e de alternativas. Mais do que um substituto do mundo real, muitos vêem o contexto alterado e o mundo digital torna-se mais verdadeiro do que aquele onde o seu corpo existe. O OASIS permite ainda que algumas acções do mundo real passem a ser executadas através da plataforma: ir à escola online, trabalhar online, conhecer pessoas, sair à noite, casar online. Digamos que seria uma versão SIMS aumentada, onde cada um possuiu um avatar, o qual comanda em todas as funções que forem necessárias. De facto, a experiência desta plataforma é tão imersiva que numa escola os cacifos continuam a ser necessários para guardar material, o teletransporte paga-se como uma deslocação real, as salas de chatroom surgem como salas privadas para lazer onde se pode jogar videojogos, é possível contratar assistentes pessoais para apoiarem a gestão da vida pessoal online.
Isto só alguns exemplos mas que retratam o nível de pormenor e cuidado que Ernest Cline dedicou na construção deste mundo digital. Os pormenores, a estruturação do universo e o cuidado atribuído na sua construção tornam-se por vezes tão intensos que até o leitor se esquece que aquele não é de facto o mundo dito real, porque verdadeiro é certamente o outro.
Só por esse motivo, este livro foi capaz de captar a minha atenção e de me entusiasmar. Já pouco é novidade no mundo da literatura Young Adult, especialmente no que toca a universos distópicos, e é sempre um prazer imenso ser surpreendida e deparar-me com um vira-páginas, como não acontecia há muito.
A construção deste mundo vai ainda mais longe, levando-nos a imergir também, desculpem-me a redundância, na mentalidade daquela sociedade contemporânea. Deste modo, também o leitor dá por si a desvalorizar a realidade alternativa, o tal mundo desfeito do qual os seres humanos fogem. Não que o autor se tenha isentado de qualquer pormenor. Eles estão lá e ainda que não muito detalhados, são os suficientes para o enquadramento da narrativa. Mais do que isso, a transposição de um mundo para outro leva a que o leitor deixe para segundo plano o universo menos explorado, exactamente como qualquer ser humano neste livro.
Não posso deixar de referir a caça ao ovo, naturalmente, atendendo que esse é um dos pontos altos de toda a trama e que está extremamente bem constituída: tem acção, tem mistério e desafios, tem contratempos, tem aventuras que cheguem para um novo almanaque e adorei acompanhar par e passo estes momentos. Em jeito de sugestão tardia, ainda seria mais interessante se a narrativa criasse espaço para o leitor também pudesse equacionar e tentar adivinhar. No entanto, a personagem do James Halliday foi um mistério do início ao fim, propositadamente (para comprovar a dificuldade da caçada para os jogadores), pelo que o leitor é então remetido a mero espetador.
Uma das coisas que adorei foi o facto de não sermos efetivamente poupados a referências aos anos 80. Nascida na década seguinte, não conhecia todas e como tal fiquei interessada em procurar uma série delas. Naturalmente, e porque o tempo não se cinge na mudança de um calendário, vários dos ícones de 1980 acabaram por passar para a década seguinte e portanto foi interessante encontrar estes pontos de referência e saber exactamente sobre o quê se estava a falar e também o que estava em causa em cada momento quando essas indicações eram relevantes para o decorrer da narrativa.
Só estes elementos referidos já seriam suficientes para criar um enredo mais que preenchido. No entanto, e mais do que isso, este é um livro que coloca algumas questões de reflexão sobre a construção e vivência desta sociedade moderna futurista, sem no entanto ser moralista. De qualquer forma, são criadas condições para pensar no mundo real vs. mundo digital, no potencial das relações humanas e da confiança, na solidão inerente de viver somente atrás de um ecrã, na capacidade de ser altruista mesmo num mundo que pediria o contrário, no facto que não se existe realmente sem um suporte humano, sem o núcleo duro que nos faz reger emoções, sem alguém que nos potencie o melhor que temos mas que também chame a atenção quando precisamos de um puxão de orelhas, na força que uma crença em nós, a confiança ditada por outrem, tem para nos fazer sonhar e ir mais longe.
"Ready Player One" é um livro completo, onde não faltam referências aos videojogos, ao mundo dos anos 80, à amizade e à aventura, aliando-se a todos os aspectos já enumerados. Foi uma espectacular surpresa e deixou-me rendida. Aconselho vivamente a darem-lhe uma oportunidade.
Livro cedido pela Editorial Presença em troca de uma opinião honesta sobre a experiência de leitura. A editora não se responsabiliza nem detém qualquer influência no conteúdo apresentado na opinião.
«Estas e outras novidades no site da Editorial Presença aqui»
Cláudia
Sobre a autora:
Maratonista
de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o
Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do
voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.
Eu adoro esse livro é um dos meus favoritos!E com a direção do Spielberg, é o melhor no que ele faz, de verdade. Gosto da sua obra e, mais ainda de ficção. Gostei muito do Jogador n1. Eu adorei este filme. Achei um dos melhores do gênero e adorei seus efeitos especiais. Adorei essa resenha! Eu adoro o universo geek. E amo ficção! Achei este filme sensacional, é muito bom! Sua historia é das mais interessantes que tem e algo que eu gosto muito são as adaptações dos livros.Já conhecia o livro, eu li faz muito tempo e é um dos meus preferidos. Gostei muito do filme e achei genial, cheio de boas referências. Jogador n1 é muito divertido! Já tinha visto algumas boas críticas, mas o vi recentemente e realmente me surpreendeu, como um dos novos filmes de aventura que já vi já que nos prende a respiração do início ao final e com belos efeitos especiais. Foi uma grande surpresa de animação. É um filme excelente. Maravilhoso trabalho do Spielberg!!! Super recomendo a todos.
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