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Opinião: O Universo nos Teus Olhos, de Jennifer Niven

 
O Universo nos Teus Olhos
de Jennifer Niven
 
Edição/reimpressão: 2017
Páginas: 408
Editor: Nuvem de Tinta
  





Sinopse: 
 Libby Strout, outrora a rapariga mais gorda da América, conseguiu finalmente ultrapassar o desgosto causado pela morte da mãe e está pronta para voltar a viver. Transformou-se e o que mais deseja é ser a rapariga que consegue ser tudo o que quer. No entanto, o resto do liceu não parece partilhar deste entusiasmo de Libby.Jack Masselin é o típico rapaz popular do liceu: bonito, sempre com o comentário certo na hora certa. No entanto, o gosto que tem em perceber a mecânica dos objetos, em reconstruir e transformar tudo o que encontra, não lhe serve de muito na sua incapacidade para reconhecer caras. Jack tem prosopagnosia e à sua volta, familiares e amigos incluídos, parecem-lhe desconhecidos e são, para ele, um autêntico quebra-cabeças.Quando o destino junta Libby e Jack, a solidão que cada um sente dá lugar a sentimentos muito diferentes… Uma história de superação e de um amor verdadeiro e invulgar que nos devolve a esperança no mundo, em nós e no outro.

Rating: 3,5/5
Comentário: Sei que muitos dos leitores de Jennifer Niven contavam com outro romance emocionalmente avassalador (e algo destrutivo) como foi o "Falam-me de um dia Perfeito" (opinião aqui). Mas por vezes também é necessário incutir um pouco de esperança junto da nossa juventude e a ideia de "tu és amado, alguém te quer" é tão importante como a lição de superar os nossos obstáculos e ter coragem de pedir ajuda, patente no livro anterior.
"O Universo nos Teus Olhos" é um livro-resposta que Jenifer Niven esccreveu como presente para os milhares de fãs que continuaram a contactá-la após a publicação do seu romance predecessor, esperando desta forma não só apoiar como recordar a importância de sermos ouvidos e acarinhados pelo que somos, e como somos. É um livro de aceitação, de aprendizagem, de superação também, mas especialmente de auto-aceitação.
Libby é uma personagem cheia de força, cujo processo de desenvolvimento pessoal já decorre de forma avançada quando travamos conhecimento com a personagem, e como tal, nem sempre as suas dúvidas ou receios ficam tão visíveis como o inicialmente esperado, mas ainda assim é muito humana e a esperança e fé incondicional em si e no mundo, assim como o desejo de não ser retractada como a rapariga gorda, mas como a miúda que é, com a altura e o peso que tem, mas tem com a sua cor de olhos, as sardas, os sonhos, os hobbies e os gostos pessoais. Gostei que, para variar, um livro para adolescentes com uma personagem com excesso de peso não se centrasse na perda de peso em si (embora esse factor nunca seja ignorado, não por questões estéticas mas de saúde) mas sim nos motivos pelo qual uma situação descontrolada chegou até este ponto. Bem sei que existe ainda uma certa incompreensão pela temática mas por vezes o excesso de peso não se prende com a quantidade de vezes que alguém abre a boca para comer per si, mas com comportamentos compulsivos associados a insegurança, problemas de foro emocional e ansiedade, que se poderão desenvolver em patologias se não forem diagnosticadas e tratadas a tempo. O ponto forte aqui demarcado é precisamente a elevação desta diferença, expressa pelo mundo exterior versus os que a conhecem mais de perto. É uma personagem corajosa, e gostei do brilho de luz que esta trouxe para as páginas deste livro, embora de facto, mesmo que percebendo o ponto de decalque que a autora queria assinalar (e indo contra o que acabei de expressar em cima), a questão da alimentação pudesse ter tido um enfoque mais em determinadas alturas, porque mesmo não sendo o factor-chave ou o gatilho que causa as suas fragilidades anteriores, era através deste que ela se tinha expressado no passado e que seria motivo de luta constante para a sua regulação.
Já Jack tem prosopagnosia, a incapacidade de reconhecer rostos, mesmo que perante conhecidos, familiares e amigos. Não tendo ninguém próximo que sofra desta patologia, mesmo que ela não me fosse desconhecida, não consigo precisar se o tratamento da mesma foi feita com verosimilhança ou não. A autora inspirou-se num caso familiar e pelos agradecimentos sabemos que era procurou acompanhamento especializado na revisão da temática médica. No entanto, também já li vários comentários no Goodreads de quem passa pelo mesmo que a personagem principal e que o assinala como algo exagerado e não muito verosimilhante. No meu entender, a autora preserva-se destas críticas em dois sentidos: primeiramente, quando a temática é abordada, elucida-se logo sobre a necessidade de considerar que existem vários níveis para a doença. Em seguida, porque o que julgo que ela pretende evidenciar são as características da doença. Naturalmente, se o jovem vivia numa família só com irmãos, mesmo não reconhecendo a cara da mãe, saberia ser ela a entrar no seu quarto ou nas várias divisões da casa (até porque mesmo não a reconhecendo, conseguiria identificá-la pela voz, pelo som dos seus passos, etc.). Ainda assim, o que a autora pretende é demonstrar pelos olhos de um adolescente como é que se processa a doença. Parece-me um pouco inverosímil também que ninguém soubesse do seu estado ou que pelo menos desconfiasse do mesmo, mas compreendo o impacto que essa acção tem para o enredo principal.
A relação dos dois como seu leque de amigos pretende demonstrar, mesmo por contraste, a importância de valorizarmos quem somos e de não termos receio de mostrar quem somos, mas também a necessidade de nos sabermos rodear das pessoas certas e que nos estimem, e eliminar as que possam contribuir para as nossas fragilidades.
Ainda assim, apesar de ter gostado de Jack e Libby enquanto personagens, senti que o contexto enredo demonstrava algum vazio de conteúdo.
A relação de Libby com o pai era bonita mas sabendo-os tão unidos, pareceu-me pouco desenvolvida. Já o contexto familiar de Jack também se moveu segundo um modelo periférico, ainda que compreenda o egocentrismo da narrativa.
Não obstante, sinto que a mensagem principal - a recuperação da auto-estima e a aceitação de que somos importantes, à nossa maneira, para pelo menos para uma pessoa neste mundo - foi bem transmitida e fez com que tenha acabado o romance satisfeita.
 
Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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