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Opinião: E as Montanhas Ecoaram, de Khaled Hosseini

 
E as Montanhas Ecoaram
de Khaled Hosseini
 
Edição/reimpressão: 2013
Páginas: 392
Editor: Editorial Presença 
  




Sinopse:
1952. Em Shadbagh, uma pequena aldeia no Afeganistão, Saboor é um pai que um dia se vê obrigado a tomar uma das decisões mais difíceis da sua vida: vender a filha mais nova, Pari, a um casal abastado em Cabul e assim poder continuar a sustentar a restante família. A separação é particularmente devastadora para Abdullah, o irmão mais velho que cuidou de Pari desde a morte da mãe de ambos. Nenhum dos dois imaginava que aquela viagem até à capital iria instalar um vazio nas suas vidas que seria capaz de atravessar décadas e quilómetros e condicionar os seus destinos...

Neste seu terceiro romance, "E as Montanhas Ecoaram", Khaled Hosseini traz-nos uma belíssima e comovente saga familiar que reflete sobre como os laços que nos unem sobrevivem aos obstáculos que a vida nos impõe.


Rating: 3/5
Comentário: Esta deveria ter sido a primeira leitura do ano, a estrear o projecto do World Book Tour. No entanto, várias opiniões e comentários sobre os livros do autor colocaram-me algo reticente, na medida em que me apetecia começar o ano com leituras mais leves e desdramatizadas. Nesse sentido, só agora em Março tive vontade de escolher esta leitura. Confesso que o motivo pelo qual escolhi este livro se prendeu não somente pela sinopse mas porque me parecia dos três o menos denso no que toca a violência ou agressividade. Tinha razão, mas também julgo compreender quando as pessoas dizem ser o menos bem conseguido dos três já publicados em Portugal, uma vez que a comparação da sinopse perante a narrativa do livro deixa um pouco a desejar.
De facto, a premissa do enredo parte exactamente desse ponto enunciado, mas estamos muito pouco em contacto com os irmãos, cuja trama passa para segundo plano sem que o leitor esteja à espera. "E as Montanhas Ecoaram", cujo título reflecte mais os preâmbulos e resquícios da cultura afegã pelo Mundo - disseminado por diversas personagens e formatos - do que o enquadramento paisagístico pelo qual o país é conhecido, procura dar voz a vários intervenientes, tanto directos como indirectos, num país em constante mudança politico-social, criando uma crónica de costumes e vivências, reflectindo os diversos agentes passíveis de modificar assim como de ser mudados pela histórica: influenciadores de locais, criminosos e corruptos, população subjugada, intervenientes em causas humanitárias, emigrantes de 1ª geração, emigrantes de 2ª geração cujas raízes afegãs há muito se perderam, os que procuram voltar e rever-se num país que já não é seu e os que fogem dele e das suas idiossincrasias como se a sua vida dependesse disso (e às vezes depende mesmo).
É uma crónica narrada capítulo a capítulo, cujos actores (ainda que remotamente ligados à trama inicial) acabam por servir de linha condutora a esta análise sociocultural,  que através de muitos saltos temporais nos proporciona janelas fotográficas para determinados momentos da história.
Ainda assim, a tentativa de englobar uma série de temáticas no único contexto acabou por defraudar o autor, na medida em que esse manto de retalhos acaba por ser cedido em segundo plano para narrativa pessoal de casa personagem, que por vez acaba por se remeter para o enredo enunciado na sinopse ainda em menor dimensão. Julgo que esse encadeamento constante e a frequência dos saltos temporais, que nos fornecem uma imagem menina e depois uma amadurecida de uma série de personagens, sem grandes explicações para as variâncias e transformações senão pela sucessão factual de diversas enunciações, acaba por deixar uma sensação de ausência e vazio a descoberto, que o autor não soube preencher da melhor maneira. É um quase que nunca chega a ser, e que pouco contribui para embrenhar o leitor na narrativa e torná-la também um pouco sua.
Ainda assim, apaixonei-me por várias das personagens, e talvez daí advenha em parte a desilusão de não as poder descobrir com maior cuidado e minúcia, assim como às suas histórias. As que me cativaram mais compreenderam a infância de Pari e Abdullah, mas também a da madrasta de ambos e do seu irmão. Não obstante, o que me levou a crer na capacidade de Khaled Hosseini ser um grande contador de histórias, foi a narrativa de um pequeno menino cujo olhar de amor filial se irá transformar perante a perda do manto de inocência e ingenuidade com que sempre cobriu o seu pai. 
Não tenho muito interesse em ler as obras prévias do autor, apesar do mar de elogios que lhes tenho visto ser atribuídos, mas por causa desta última personagem estarei atenta a próximos trabalhos do mesmo.

 
Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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