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Opinião: O Dia em que Perdemos a Cabeça, de Javier Castillo




O Dia em Que Perdemos a Cabeça
Javier Castillo
 
Edição/reimpressão: 2019
Páginas: 456
Editor: Suma de Letras Portugal





Sinopse: Atreva-se a descobrir o mistério do ano sem perder a cabeça. 275000 exemplares vendidos

«São doze horas da manhã de 24 de Dezembro, falta um dia para o Natal. Caminho pela rua tranquilo, com o olhar perdido, e tudo parece estar em câmara lenta. Olho para cima e vejo erguerem-se quatro balões brancos que se afastam em direcção ao Sol. Enquanto ando, ouço gritos de mulheres e percebo como as pessoas, ao longe, não param de me observar. Para dizer a verdade, parece-me normal que olhem para mim e gritem, ao fim e ao cabo estou nu, coberto de sangue, e transporto uma cabeça entre as mãos.»

Centro de Boston, 24 de Dezembro, um homem caminha nu, trazendo nas mãos a cabeça decapitada de uma jovem mulher.
O Dr. Jenkins, director do centro psiquiátrico da cidade, e Stella Hyden, agente do FBI, vão entrar numa investigação que colocará em risco as suas vidas e a sua concepção de sanidade. Que acontecimentos fortuitos ocorreram na misteriosa Salt Lake City há dezassete anos? E por que estão todos a perder a cabeça agora?

Rating: 3/5
Comentário: Como sabem, os thrillers não brilham frequentemente nas minhas estantes. No entanto, de tempos a tempos gosto de pegar num que pareça reunir todos os ingredientes que gosto: mistério e suspense, poucas descrições demasiado gráficas, ação continua e personagens que me intriguem.
"O Dia em que Perdemos a Cabeça" de Javier Castillo tem todos estes elementos e mais alguns.
A trama está tão bem montada que cheguei à página 200 e pouco sem conseguir prever o que ia acontecer e, muitas vezes, sem perceber sequer o que estava a acontecer. Embora seja fornecidos ao leitor alguns elementos que permitem que este vá fazendo ligações entre contextos e vários elementos da história, falta-nos sempre o mais importante: o porquê. E sem respostas às nossas inquirições, a leitura acaba por se tornar mais viciante e simultaneamente temerosa, porque sabemos que a solução estará numa próxima página.
Neste aspecto o autor saiu-se brilhantemente e conseguiu convencer-me. O meu ritmo de leitura não é muito acelerado e Javier Castillo conseguiu pôr-me a ler 200 páginas em 2 dias, um feito ímpar!
No que toca ao encadeamento da narrativa, as vertentes vão-se encaixando a ritmos díspares, ou lentamente e com poucos elementos fornecidos (despertando a veia de dectetive de cada um), ou disparando-nos com vários elementos numa cadeia vertiginosa e imparável e que nos deixa sem fôlego.
O motivo porque não me senti totalmente rendida à narrativa prende-se com a razão principal que o autor atribuiu a vários acontecimentos do livro, e que a partir desse momento se torna justificativa para toda e qualquer incongruência de lógica que possa surgir. Não é o inverossímil que me colocou de pé atrás com o enredo (porque até esse, desde que logicamente fundamentado, traz robustez a uma narrativa), mas a bengala fácil que serviu de cola para vários ramos da rede complexa que o autor criou. Independentemente disso, reconheço que não foi deixada uma ponta solta (só aquele final, ai aquele final...!!!) e que na lógica de construção narrativa, Javier Castillo conseguiu levar os leitores onde queria.
Um dos elementos que achei mais interessantes neste thriller para pela construção da condição humana e no constante teste aos limites pelos quais passamos, mesmo quando não nos apercebemos.
Não existe uma personagem linear, e vários momentos de modelação de personalidade são abertos precisamente para explorarem a área cinzenta em que o Ser Humano geralmente opera.
Essa ausência do certo e do errado como lineares, e da capacidade tanto de regeneração como de perda e desconstrução por parte das pessoas reforça o nosso papel arbitrário na tomada de decisões e na análise dos nossos valores e moral como comando vital dos rumos tomados na nossa vida. Mas é também um elemento que serve de contraponto à subjugação do Determinismo, que é também constante na narrativa, desafiando o leitor a decidir por si o que é que está realmente em causa.
Este livro foi um bom pontapé de saída para 2019, e mesmo não tendo preenchido as minhas medidas por completo, estou curiosa com a continuação. Leiam também e venham cá comentá-lo em baixo. 



Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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