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Opinião: A Amante do Governador, José Rodrigues dos Santos



 
A Amante do Governador
José Rodrigues dos Santos
 
Edição/reimpressão: 2019
Páginas: 720
Editor: Gradiva





Sinopse: Depois de atacarem Pearl Harbor e invadirem Hong Kong, os japoneses cercam Macau. Com o inimigo às portas, o novo governador, Artur Teixeira, tem de enfrentar a maior ameaça ao império português durante a Segunda Guerra Mundial. Diante dele está o coronel Sawa, o violento chefe do Kempeitai, que ameaça invadir a colónia portuguesa na China. Para salvar Macau, o governador conta apenas com o seu engenho - e a ajuda de um punhado de homens e mulheres, incluindo a própria concubina do coronel Sawa, a chinesa Lian hua. Tudo se complica, no entanto, quando se apaixona por ela.

Amor e guerra no choque de impérios
A Macau dos juncos e das sampanas, dos casinos e do ópio, do Leal Senado e da Praia Grande, do Fat Siu Lao, do Grémio Militar e do Clube de Macau, do Porto Interior e da Porta do Cerco, dos riquexós, dos contrabandistas chineses e das dançarinas russas, do mahjong e da corrupção, do patois, das canções de Art Carneiro e dos jogos de hóquei na Caixa Escolar.
E dos refugiados, dos bombardeamentos e da fome.
Baseado em acontecimentos verídicos, A Amante do Governador resgata os dias de Macau sob cerco japonês e mostra como Portugal manteve a única bandeira ocidental hasteada no Extremo Oriente durante toda a Segunda Guerra Mundial.
O grande romance português está de volta com a assinatura de José Rodrigues dos Santos, o mestre das nossas letras.

Rating: 3,75/5
Comentário: Quem já nos acompanha há uns tempos, sabe que era impensável que pegasse num livro de José Rodrigues dos Santos para ler. Não por preconceito, mas porque as minhas experiências anteriores de leitura deste autor decretaram claramente que não ia ser um casamento bem sucedido. Sempre achei os seus discursos insípidos e as personagens um pouco ocas, assim como uma construção pouco bem sucedida.
Acontece que a sinopse de "A Amante do Governador" despertou a minha curiosidade. Um dos motivos prendeu-se com o facto de questões profissionais me terem levado a analisar alguns detalhes de Macau, especialmente na época em que se passa o romance. Nesse sentido, o reconhecimento de referências com as quais já me tinha encontrado foi extremamente agradável, especialmente porque pude ver alguns assuntos desenvolvidos.
O ponto forte deste livro é, naturalmente, a investigação histórica e factual que o suporta, e que permite uma construção rica da trama. É essa que sobressai e constituiu foco de maior prazer. A gestão diplomática exercida pelo Governo de Macau durante o período da 2ª  Guerra Mundial, num equilíbrio precário entre neutralidade, necessidade básica, manutenção de soberania e necessidade de satisfazer os japoneses. A necessidade de assegurar alimentação a milhares de pessoas, numa cidade que há muito havia ultrapassado os limites da subsistência e que continuava a receber refugiados provenientes da China e de Hong Kong, demonstrou uma vontade férrea e estratégica por parte do governador Artur Teixeira (que é, de resto, uma personalidade real e responsável pela gestão do governo de Macau nesta altura).
As jogadas de mestre, as tiradas de xadrez e a preparação para qualquer eventualidade, tornaram o livro empolgante e aguçaram a curiosidade (tanto que entretanto já visitei o Museu do Centro Científico e Cultural de Macau) sobre Macau durante este período.
Algumas personagens são necessariamente ficcionadas e pouco desenvolvidas, para minha pena, já que compunham um leque mais diversificado para a trama. Até porque o livro é extenso e embora cumpra o propósito de estabelecer um quadro de época, torna-se exaustivo para figurar ideias já bastante expressas e por vezes repetitivo.
O título é desnecessário e enganador, até porque a amante não ocupa espaço nenhum na trama principal e aparece fugazmente no último segmento do livro, sem qualquer impacto de maior (até porque parece ter sido ali enfiada grosseiramente e com o único propósito de justificar o tema).
Em suma, parabenizo o autor pela investigação exaustiva e pela contextualização massiva de uma parte da nossa História que é mais desconhecida. No entanto, não fico rendida, porque a minha impressão inicial mantém-se: os diálogos são secos, as personagens pouco aprofundadas e as ideias repetidas constantemente. Vale-lhe a parte histórica e a justificação do interesse pessoal. Tão cedo não retorno.



Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

Comentários

  1. Talvez algumas personagens pareçam pouco exploradas porque este livro vem no seguimento da trilogia do Lótus, onde o autor nos apresenta a vida desde a infância até aos factos que levam ao início deste livro do português, do japonês, da chinesa e da russa. Depois da leitura dos anteriores fica-se com uma imagem mais clara e completa de cada um deles, embora os elos de ligação entre eles só sejam totalmente perceptíveis neste último.
    São demasiado exaustivos nos detalhes históricos mas também é aí que reside o seu maior interesse. Se lhes deres uma oportunidade, conta como correu :)

    Não Digas Nada a Ninguém

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