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Opinião: A Sociedade Literária da Tarte da Casca de Batata, de Mary Ann Shaffer e Annie Barrows



A Sociedade Literária da Tarte da Casca de Batata

de Mary Ann Shaffer, Annie Barrows

 
Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 384
Editor: Suma de Letras Portugal






Sinopse: Londres, 1946. Depois do sucesso estrondoso do seu primeiro livro, a jovem escritora Juliet Ashton procura duas coisas: um assunto para o seu novo livro, e, embora não o admita abertamente, um homem com quem partilhar a vida e o amor pelos livros. É com surpresa que um dia Juliet recebe uma carta de um senhor chamado Dawsey Adams, residente na ilha britânica de Guernsey, a comunicar que tem um livro que outrora pertenceu a Juliet. Curiosa por natureza, Juliet começa a corresponder-se com vários habitantes da ilha. É assim que descobre que Guernsey foi ocupada pelas tropas alemãs durante a segunda Guerra Mundial, e que as pessoas com quem agora se corresponde formavam um clube secreto a que davam o nome de Sociedade Literária da Tarte de Casca de Batata. O que nasceu como um mero álibi para encobrir um inocente jantar de porco assado transformou-se num refúgio semanal, pleno de emoção e sentido, no meio de uma guerra absurda e cruel.

Rating: 4/5
Comentário: "A Sociedade Literária da Tarte de Casca de Batata" é um hino à esperança e à reconstrução, à capacidade de encontrar humor no meio da negritude, e da procura dos laços de companheirismo como rede de sobrevivência no meio da crueldade. Ou do inesperado. Algo que as próprias autoras replicam, já que Annie Barrows apoiou a tia e deu continuidade à redacção deste livro, quando a segunda deixou de estar apta por questões de saúde.
Guernsey é um exemplo da extensão dos tentáculos da guerra, com tudo o que ela acarreta, mantendo vivos os fantasmas da deportação e da fome, mas talvez ligeiramente mais protegida da crueldade atroz que outros locais presenciaram durante a ocupação nazi.
Ou talvez assim o seja somente pelos olhares destas personagens, que procuraram num momento que, primeiramente serviu de sobrevivência e depois de recriação de refúgio, conseguiram encontram alguma luz que os inter-conectasse e protegesse ds malvadez humana.
Este é um romance epistolar, formato que ligeiramente me deixa com algum resguardo. Mas as autoras foram inteligentes e criaram um sistema credível, com a participação de diversos intervenientes nesta correnteza comunicacional.
Isto implica uma mestria imensa, para além de dar corpo a consolidação a diversas personagens que teriam passado despercebidas com uma abordagem diferente.
Juliet, enquanto protagonista, é um girassol cheio de luz, que traz uma nova envolvência a uma comunidade que vive suspensa no passado, aguardando os fantasmas que não voltam. Não ocupando o seu espaço, mas contribuindo com leveza e jovialidade, esta jovem deixa-se enredar por uma noção de rir da e com a vida, mesmo quando esta é trágica, encontrando no humor uma ferramenta poderosíssima para fazer frente a tantas coisas, nomeadamente a dor da perda.
Mas são tantas e tão ricas as personagens, que por vezes Juliet só brilha porque estas existem. Isolda é a doçura da ingenuidade e da fome do bem; Dawsey a solidez discreta, a estrutura que suporta um vendaval, desde que não olhe para dentro de si; Amelia a maternal, a sensatez transmitida num colo, mas também a fragilidade de quem não se sente capaz de encarar o horror de frente por muito mais, mesmo que se enverede em canas de força para continuar a vingar. Quadro composto pelo núcleo de Londres, onde é sem dúvida Sydney que roubou o meu coração. Com um estilo despreocupado, protector, algo irónico e de uma generosidade enorme, representa as loucuras às quais aderimos por amizade, ao respeito ímpar pelo próximo e à necessidade de viver a própria vida. Como se quer, e sem jukgamentos.
As cartas são repletas de momentos de humor e sensibilidade, coragem e resiliência. É um livro que não ignora a 2ª Guerra Mundial mas pretende utilizá-la como bengala para o que mais importa. A sobrevivência e a esperança depois da tragédia. O vigor da renovação. E o prazer de descobrir que apesar de muitas vezes feio, o mundo ainda nos traz alguns raios de sol. Especialmente se plantados e alimentados dentro de nós.





Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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