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Opinião: Magalhães, Gianluca Barbera



Magalhães

de

 
Edição/reimpressão: 2019
Páginas: 240
Editor: Editorial Presença





Sinopse: Ano de 1519. Cinco carracas zarpam de Sevilha sob o comando de Fernão de Magalhães. A viagem durará três anos. Fernão de Magalhães confrontar-se-á com motins, tempestades, o gelo polar, doenças e contendas com tribos ferozes, na procura de uma passagem que, através da América do Sul, o conduza ao Oriente, em direção ao destino final: as fabulosas Ilhas das Especiarias. Os acontecimentos, porém, tomaram um rumo imprevisto.

Este romance é o relato da primeira viagem de circum-navegação da Terra, narrado pela voz de Juan Sebastián del Cano, um dos poucos homens que regressaram à pátria a bordo do único veleiro que se salvou. Sebastián del Cano irá atribuir a si próprio o mérito da empresa, manchando a memória de Fernão de Magalhães, que foi morto na desconhecida ilha de Mactan (no atual arquipélago das Filipinas) em circunstâncias dramáticas.

Magalhães é uma viagem não só real mas também da alma, descrita numa linguagem que parece tornar-se mais ancestral à medida que o relato da expedição prossegue rumo a terras cada vez mais ignotas e selvagens.

Rating: 3/5
Comentário: Magalhães é o homem do momento, ou da polémica do momento, se assim o quiserem designar. É também um dos grandes empreendedores do seu tempo, e um visionário para além dos interesses dos países. Ainda assim, a vontade de levar em diante a grandeza dos portugueses ficou ofuscada por um rei que lhe negou a dignidade requerida a um homem das descobertas que traria o país mais uma vez para a vanguarda das oportunidades económicas. Apesar de tudo, é também um homem de mistério, cuja glória hoje assinala se perdeu nos anais do tempo, dado que  o navegador faleceu durante a empreitada.
Pegando nos elementos históricos conhecidos, Gianluca Barbera tenta recriar o que poderá ter sido esta viagem de circum-navegação do globo, narrada na primeira pessoa, mas não pela voz de Fernão Magalhães.
Independentemente de se encarar o processo como descobrimentos ou redescoberta, navegação ou aventura, a passagem deste grupo de espanhóis liderados por portugueses deixou marcas no território, ou não fossem os Patagões assim designados desde a passagem da armada pelo território.
Em determinadas partes do Mundo, Magalhães tem mais evidência e reconhecimento do que em qualquer parte de Portugal e Espanha, e numa região que hoje em dia me escapa, pensaram até criar um museu em honra desta viagem, no local onde um dos seus navios afundou.
Explorando essa dinâmica, era expectável que Gianluca nos desse em parte esse sentido de pertença e aventura de um facto histórico conhecido mas cuja realização empática ainda estava aquém.
Não negando o processo de investigação realizado, o qual está patente nas primeiras páginas do livro (em que as descrições são precisas, completas e bastante elucidativas), falta-lhe um equilíbrio no segmento da narração da viagem, onde não só se repetem os momentos e passagens, como em última instância, também o carácter distinto que delimita esta viagem das restantes.
Há uma representação do que seria a vida a bordo, assim como a definição das várias dificuldades remetentes ao processo de ser um portugueses a comandar uma armada espanhola, fiel à coroa mas não a este homem, cujo feito irascível também não facilitava o ganho do respeito dos seus homens.
Julgo não estar enganada, mas é premente que a secção da viagem propriamente dita, salvo raros apontamentos biográficos sobre Magalhães, é composta totalmente por ficção. Ficção essa que acaba por se tornar aquém do esperado, e criando um certo desequilibro narrativo.
Ainda assim, retirei proveito desta leitura porque esses apontamentos biográficos foram um ganho e mais valia para o pouco que conhecia sobre Fernão de Magalhães e o processo da viagem, ou sobre o facto do navegador não viver tempo suficiente para configurar o sucesso da empreitada.
Acaba por ser essencialmente um livro de entretenimento puro, tendo por base o enfoque semelhante ao das biografias, já que no imediato a ficção não é dotada de muitas intervenções ou momentos de acção que justifiquem a sua existência delimitada.
A conjugação entre o mundo da ficção e dos dados biográficos é gerida por Gianluca com alguma ginástica, através da qual o autor tenta atenuar dicotomias e fragilidades de cada dimensão.
Acabou por ser, naturalmente, um livro de aprendizagem, mesmo que esse não seja o seu intuito principal. 

 



Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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