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Opinião: Quando nada acontece, de Kathryn Nicolai


 

Quando nada acontece
de Kathryn Nicolai

Edição/reimpressão: 2020
Páginas: 312
Editora: Suma de Letras Portugal





Sinopse: As mentes ocupadas precisam de um lugar seguro para descansar. Se tem problemas para adormecer, acorda a meio da noite preocupado, ou fica ansioso durante o dia, este livro pode ser a solução. Em Quando nada acontece Kathryn Nicolai oferece uma forma saudável para sossegar a mente antes de dormir através do apelo intemporal das histórias de adormecer, numa versão para adultos. As histórias acontecem dentro e de uma cidade fictícia, cada uma revelando pequenos e doces momentos de alegria que se encontram no lugar-comum. À medida que os narradores sem nome e sem género contam os seus dias, evocam os distintos confortos oferecidos por cada uma das quatro estações e gentilmente acalmam o leitor até o sono. Desde celebrar a natureza e se deleitar com a alegria, ou ficar sozinho em casa, até o prazer de se perder nas estantes da biblioteca ou escolher o melhor tomate na feira, este tesouro tem algo para todos.

Também encontrará dezasseis novas histórias nunca antes apresentadas no podcast Nothing Much Happens, junto com ilustrações, receitas e meditações. Com décadas de experiência como professora de meditação e ioga, Kathryn Nicolai cria um mundo para entrar, um mundo rico em experiências sensoriais que silenciosamente ensina a atenção plena e autocompaixão, acalma a ansiedade e cria hábitos sólidos para um bom sono.

Rating: 2/5
Comentário: Kathryn Nicolai descreve-nos na nota introdutória de "Quando nada acontece" como chegou à fórmula mágica do bem dormir e ao sucesso que leva muitos a procurá-la e ao seu método. Método esse que se traduz na arte de bem contar, mas acima de tudo, na criação de histórias reconfortantes e calmantes, que apoiam os ouvintes (e agora leitores) na prossecução de uma noite de sonho melhor dormida. Depois de obter como feedback contínuo que as suas estórias contribuíam para o desligar da mente nos minutos antes de dormir, e que permitiam a muitos ouvintes obter noites de sono contínuas e bem dormidas, devido a um relaxamento do corpo e da mente, a autora começou a reflectir no que a despoletava. E chegou à conclusão de que trata essencialmente da possibilidade de posicionar a mente num estado de letargia aconchegante, ao mesmo tempo que eleva o espírito ao campo de concentração relaxado também provocado pela meditação. A junção destes dois elementos está na génese de noites não só bem dormidas, como sem interrupções.
Nesse sentido, e com o intuito de chegar a mais leitores fartos de contar ovelhas, Kathryn reuniu algumas das suas melhores histórias num livro único, que é uma colectânea de bons momentos (com um toque de hygge), completando estórias com receitas, ilustrações e pequenas dicas, tornando-se um compêndio de bem-estar. 
Um dos "truques" destas histórias passa por torná-las simples, mas suficientemente descritivas para que o cérebro tenha capacidade de compreender o cenário sem se esforçar para o recriar, enquanto permite que quem as lê se foque mais nas sensações invocadas e menos no conteúdo. Para facilitar o processo, e já que são descritos locais desta pequena cidade imaginada, existe um mapa no início do livro que de uma forma bastante simples elucida sobre a sua essência, serviços e locais em destaque, que de umam forma ou de outra surgirão nas estórias que se seguem. 
Perante este cenário, este livro teria tudo para dar certo com uma noctívaga incurável, que tem ouvidos de tísica e acorda com qualquer inspiração mais funda de um vizinho. Infelizmente, não resultou. E não resultou porque, já experiente nestas coisas, os mecanismos do meu cérebro accionaram constantemente a lógica durante a leitura. Não tive capacidade de me emergir nos pequenos contos porque, tal como quando apagamos a luz para tentar dormir, mas depois só andamos às voltas durante horas, estas estórias gritavam-me constantemente os "truques" a ser aplicados. Depois de umas primeiras páginas em que passei o serão em modo "isto é para dormires", "aquilo é para apelar a coisas quentes e fofas", "esta é para transmitir serenidade", acabei por me sentir enfastiada e optei por desistir. Não só porque efectivamente vários momentos funcionavam como gatilho no meu cérebro de detective, mas porque as histórias são banais, retractando momentos de quotidiano e sem "enredo", pelo que só serviriam para o objectivo proposto, o qual já tinha boicotado. No entanto, diria que este é um processo como o yoga: exige treino e predisposição, e não me senti com vontade de exercer nenhum deles com os meus momentos de leitura, que ainda me dão prazer. 
Reconheço, no entanto, que este tipo de exercício mental terá uma enorme viabilidade para pessoas mais flexíveis ao relaxamento e atividades semelhantes, o que poderá ter resultados interessantes e benefícios na hora de ir dormir. Kathryn, perdoa-me, mas não sou o teu público-alvo. Mas a tua aldeia de neve e bebidas quentes, caminhas de vento na face, cozinhados e livros bons parece-me um local bonito a conhecer. 
 
 
Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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