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Opinião: O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo, de Charlie Mackesy



 

O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo
de Charlie Mackesy

Edição/reimpressão: 2020
Páginas: 128
Editora: Suma de Letras Portugal



Sinopse: Um menino curioso, uma toupeira gulosa, uma raposa cautelosa e um sábio cavalo encontram-se num dia de Primavera e estabelecem uma inesperada amizade. Os quatro exploram o mundo. Colocam a si próprios grandes questões. Atravessam tormentas. Aprendem a amar. Esta fábula sobre a esperança e a bondade está cheia de lições vitais que atingiram já legiões de corações de leitores de todo o mundo.
 
Rating: 4/5
Comentário: Charlie Mackesy iniciou o projeto d' "O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo" através de uma exposição em Londres em 2018. O encadeamento de cada ilustração trouxe-lhe alento para tentar compor um mapa de estórias que sobrevivesse por si, mas que no conjunto permitisse explorar a relação das personagens com o tempo, a vida e a perspectiva de movimento, traduzida numa viagem sem rumo ou destino.
Recheada de momentos mágicos, esta viagem traduz-se em reflexões, diálogos, interacções de personagens que partilham pensamentos e conversas que poderiam aproximar-se de questionamentos existenciais, alguma filosofia e sabedoria de vida. 
Existe uma aura que pode metamorfosear-se numa alusão ao Principezinho, mas sem uma moral tão peremptória. Não lhe nego os clichês, mas abraço-os como tal, já que os clichês não têm porque representar sempre a indolência e a falta de gosto. Todos necessitamos de lugares comuns que nos tragam referências ao que é viver, sentir, questionar e procurar conforto (seja no abraço de um amigo ou numa bela fatia de bolo, que ninguém que tire a razão Toupeira). E os lugares comuns deste livro levam-nos não só aos momentos em que somos felizes pela possibilidade de partilha e troca de afecto, mas também de reconhecimento que a dor existe e pode ser inevitável, assim como a angústia. E que no entanto, esse não é o fim do Mundo, até porque uma das melhores práticas a reter é saber pedir ajuda quando o turbilhão é grande e o rumo confuso. Ou que o percurso não é tão sombrio quando em companhia. 
Este livro parece-me também um agradecimento subterfúgio ao acto de estar vivo e saber viver, mesmo quando a Vida não nos facilita o percurso. Um agradecimento pela sabedoria do domínio da escuridão com recurso a bengalas mágicas, sejam elas a superação pessoal, ou as alavancas que surgem pelo caminho e nos erguem quando estamos soterrados. Há um cunho muito pessoal, que tanto tem de Charlie Mackesy, como de qualquer um de nós. E é simultaneamente uma chamada à memória do nosso eu menino/ menina, uma lembrança do que a potencialidade da imaginação colocava à nossa disposição na altura, reforçando o lado humano pela sensibilidade da narrativa singular. Relembra-nos o poder da bondade (com os outros mas especialmente connosco próprios), a liberdade de definir como reagimos às emoções que nos consomem em cada momento, o direito a viver em pleno e a nutrirmos afecto e amor-próprio. A reconhecer a importância de nos tratarmos bem e respeitar-nos como génese de uma vida saudável e plena. 
Sendo um livro baseado numa exposição artística, não dá para esquecer a representação visual. As ilustrações de traços leves, de cor preta e pincelada suave, reforçam a delicadeza da narrativa e criam movimento e um redemoinho que nos envolve. A cor não faz falta per si, mas simultaneamente, há movimento e vida num livro quase unicolor, com pontilhados de céu e estrelas, de lagos e terra verdejante, de coragem e esperança.
Este livro é um afago nas almas cansadas e uma recordação para sermos mais gentis connosco. Um tratado de amor que tanto alimenta os adultos como coloca sementinhas na mente dos mais novos, incentivando-os a aprender que uma vida feliz não se faz sozinha, e que se inicia com a auto-aceitação e respeito individual. E amor colectivo. 

Banda sonora enquanto escrevo: I'm a memory, de "The Poison Oaks"
 
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Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas, a Cláudia lê nos transportes públicos enquanto observa o Mundo pelo canto do olho. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado, é tão fácil encontrá-la envolvida num novo projeto como a tagarelar sobre tudo e mais alguma coisa. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

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