Quando eu era nova, algures no tempo dos dinossauros, o meu dia favorita era a sexta-feira por um motivo diferente daquele que pensam. A sexta era o meu dia favorito porque era o dia em que a minha professora primária levava a turma à biblioteca da escola.
Fechada durante o resto da semana e escondida como um segredo, a biblioteca da minha escola primária era uma sala pequena, mas tão pequena que a minha turma de vinte e poucos alunos não cabia lá toda, tendo que ir em grupos de doze.
E mesmo indo doze, entravamos na sala aos seis de cada vez, devolvíamos os livros que tínhamos levado para casa e levávamos outros. No princípio, quando a meio do primeiro período do segundo ano a professora nos levou à biblioteca pela primeira vez não podíamos levar os livros para casa. A primeira tarde era passada em leitura na sala de aula e no fim, antes de irmos para casa, devolvíamos os livros à professora.
A biblioteca era por isso um lugar para "gente crescida", os meninos do primeiro ano não podiam lá entrar e tínhamos de ter os livros bem cuidados para podermos tornar a requisitá-los. Como devem imaginar maior parte destes livros era rico em imagens e tinha pouco texto. As cores nas lombadas ajudavam-nos a ter uma melhor percepção do que íamos levar. Os livros era catalogados por anos, sabíamos que certas cores significavam livros muito avançados, algo que só os meninos do quarto ano liam.
Mas eu era corajosa e cheguei muitas vezes a requisitar livros gordos e complicados. A minha professora primária sorria e lá me deixava andar, convencida que talvez a minha mãe (que também é professora) me explicasse o que eu não percebesse ou que talvez eu guardasse as minhas dúvidas para mim.
Na realidade as histórias sempre me fascinaram e ainda hoje sou capaz de largar tudo para ouvir alguém contar uma história, seja de vida, seja inventada, seja de moral. Que posso fazer? As histórias mexem comigo.
Será por isso de estranhar que quando mudei de escola e fui para o quinto ano o primeiro local que tenha procurado tenha sido a biblioteca? Quando a encontrei lembro-me de ter ficado maravilhada, a sala era muito maior e tinha televisão e tudo, que era ligada durante os intervalos para os alunos poderem ver o Dragon Ball (única altura em que a vi cheia), era também nesta sala que anualmente era realizada a feira do livro. Esta segunda biblioteca foi a biblioteca onde requisitei o livro A História Interminável três vezes, e apesar de o ter feito, nunca o consegui acabar de ler. Até hoje não tornei a pegar nele para não quebrar a mística.
Quando troquei de escola para o oitavo ano encontrei uma biblioteca ainda maior, onde ganhei o prémio de leitora assídua e um vale para gastar na Fnac. No secundário também passei bons momentos na biblioteca quer fosse só a ler, quer fosse a pesquisar livros entre as estantes.
A única biblioteca que nada me disse foi a universitária por só ter livros de estudo. Ainda por cima como o meu curso era especial não tinham material de estudo para mim, por isso, ao contrário da turma que estudava toda lá, eu estudava em casa. Aquela era uma biblioteca que me partia o coração.
Foi algures por aí que me comecei a afastar das bibliotecas que sempre tinham estado perto do meu coração. Depois disso comecei a comprar todos os livros que lia ou a pedir emprestado a amigos e familiares, como todos sabiam que gostava de ler, ia recebendo livros nos anos e no natal e a minha pilha do para ler lá ia crescendo.
Quando fiquei desempregada tive de cortar nas minhas compras de livros, mas a vontade de ler continuava lá. Foi aqui que voltei para as bibliotecas, a medo, como se elas pudessem cheirar em mim as livrarias e me julgassem, devagarinho, sem já saber muito bem como se usa uma biblioteca, mas a Cláudia empurrou-me e puxou-me até me fazer entrar numa, até me relembrar do quanto eu amava as bibliotecas.
E sabem que mais? As bibliotecas não me julgaram, não me puseram fora e não me desiludiram. Creio que todos devíamos ter uma biblioteca perto de nós, para aqueles dias mais calmos, para aquelas alturas em que a nossa alma de se cansa e para aquecer o coração. Afinal as bibliotecas estão cheias de histórias e é para isso mesmo que as histórias servem.
E mesmo indo doze, entravamos na sala aos seis de cada vez, devolvíamos os livros que tínhamos levado para casa e levávamos outros. No princípio, quando a meio do primeiro período do segundo ano a professora nos levou à biblioteca pela primeira vez não podíamos levar os livros para casa. A primeira tarde era passada em leitura na sala de aula e no fim, antes de irmos para casa, devolvíamos os livros à professora.
A biblioteca era por isso um lugar para "gente crescida", os meninos do primeiro ano não podiam lá entrar e tínhamos de ter os livros bem cuidados para podermos tornar a requisitá-los. Como devem imaginar maior parte destes livros era rico em imagens e tinha pouco texto. As cores nas lombadas ajudavam-nos a ter uma melhor percepção do que íamos levar. Os livros era catalogados por anos, sabíamos que certas cores significavam livros muito avançados, algo que só os meninos do quarto ano liam.
Mas eu era corajosa e cheguei muitas vezes a requisitar livros gordos e complicados. A minha professora primária sorria e lá me deixava andar, convencida que talvez a minha mãe (que também é professora) me explicasse o que eu não percebesse ou que talvez eu guardasse as minhas dúvidas para mim.
Na realidade as histórias sempre me fascinaram e ainda hoje sou capaz de largar tudo para ouvir alguém contar uma história, seja de vida, seja inventada, seja de moral. Que posso fazer? As histórias mexem comigo.
Será por isso de estranhar que quando mudei de escola e fui para o quinto ano o primeiro local que tenha procurado tenha sido a biblioteca? Quando a encontrei lembro-me de ter ficado maravilhada, a sala era muito maior e tinha televisão e tudo, que era ligada durante os intervalos para os alunos poderem ver o Dragon Ball (única altura em que a vi cheia), era também nesta sala que anualmente era realizada a feira do livro. Esta segunda biblioteca foi a biblioteca onde requisitei o livro A História Interminável três vezes, e apesar de o ter feito, nunca o consegui acabar de ler. Até hoje não tornei a pegar nele para não quebrar a mística.
Quando troquei de escola para o oitavo ano encontrei uma biblioteca ainda maior, onde ganhei o prémio de leitora assídua e um vale para gastar na Fnac. No secundário também passei bons momentos na biblioteca quer fosse só a ler, quer fosse a pesquisar livros entre as estantes.
A única biblioteca que nada me disse foi a universitária por só ter livros de estudo. Ainda por cima como o meu curso era especial não tinham material de estudo para mim, por isso, ao contrário da turma que estudava toda lá, eu estudava em casa. Aquela era uma biblioteca que me partia o coração.
Foi algures por aí que me comecei a afastar das bibliotecas que sempre tinham estado perto do meu coração. Depois disso comecei a comprar todos os livros que lia ou a pedir emprestado a amigos e familiares, como todos sabiam que gostava de ler, ia recebendo livros nos anos e no natal e a minha pilha do para ler lá ia crescendo.
Quando fiquei desempregada tive de cortar nas minhas compras de livros, mas a vontade de ler continuava lá. Foi aqui que voltei para as bibliotecas, a medo, como se elas pudessem cheirar em mim as livrarias e me julgassem, devagarinho, sem já saber muito bem como se usa uma biblioteca, mas a Cláudia empurrou-me e puxou-me até me fazer entrar numa, até me relembrar do quanto eu amava as bibliotecas.
E sabem que mais? As bibliotecas não me julgaram, não me puseram fora e não me desiludiram. Creio que todos devíamos ter uma biblioteca perto de nós, para aqueles dias mais calmos, para aquelas alturas em que a nossa alma de se cansa e para aquecer o coração. Afinal as bibliotecas estão cheias de histórias e é para isso mesmo que as histórias servem.
Ki
(Catarina)
Sobre a autora:
Bibliófila assumida e escritora de domingo. Gosta de livros e tudo o que esteja relacionado com eles, tem a mania que tem opiniões sobre livros e gosta de as expor no seu blog conjunto Encruzilhadas Literárias, tem também uma conta no GoodReads e diz que é das melhores coisas que já lhe aconteceu.
Sempre que estou cansada mentalmente ou chateada, uma tarde na biblioteca é o único remédio que me cura! Saio sempre de lá bem diposta e de alma lavada!
ResponderEliminarBjinhos