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Opinião: Alma Rebelde, de Carla M. Soares


Alma Rebelde
de Carla M. Soares
Edição/reimpressão: 2012
Páginas:288
Editor: Porto Editora

 Resumo: No calor das febres que incendeiam a Lisboa do século XIX, Joana, uma burguesa jovem e demasiado inteligente para o seu próprio bem, vê o destino traçado num trato comercial entre o pai e o patriarca de uma família nobre e sem meios.
Contrariada, Joana percorre os quilómetros até à nova casa, preparando-se para um futuro de obediências e nenhuma esperança.
Mas Santiago, o noivo, é em tudo diferente do que esperava. Pouco convencional, vivido e, acima de tudo, livre, depressa desarma Joana, com promessas de igualdade, respeito e até amor.
Numa atmosfera de sedução incontida e de aventuras desenham-se os alicerces de um amor imprevisto... Mas será Joana capaz de confiar neste companheiro inesperado e entregar-se à liberdade com que sempre sonhou? Ou esconderá o encanto de Santiago um perigo ainda maior?

Rating: 3.75/5 

Comentário: Quando li a sinopse deste livro, quis muito lê-lo, e apenas adiei a sua leitura porque me inscrevi na lista do Clube Blog Ring, o qual já referi aqui uma vez. Por outro lado, quando surgiu a campanha de promoção da eWook, aproveitei para adquiri-lo mas a formatação apresentada não foi das mais agradáveis para a leitura por isso vim a adiar até recentemente. Claro que algum dia a vontade de lê-lo iria superar os pequenos obstáculos e finalmente chegou a altura.

Aqui há uns tempos, disse a propósito da minha opinião a "Esmeralda Cor-de-Rosa" de Carlos Reys, que ler um livro de um autor lusófono é o mesmo que regressar a casa. Digo isto porque, embora hoje em dia nos deparemos com traduções fantásticas, a língua mãe é diferente, e independentemente da capacidade e estilo literário de cada autor, existe uma sensibilidade muito própria na Língua Portuguesa que é reconhecida e sentida com um enorme carinho. Ler Alma Rebelde, de Carla M. Soares, trouxe-me novamente essa essência, vincadamente lusitana e poética. Na verdade, a autora ainda foi mais longe, com uma delicadeza e cuidado aprimorados na construção literária deste livro. A língua portuguesa é rica, multifacetada, complexa e composta pela conjugação de pormenores, e foi sem dúvida explorada de forma muito inteligente neste livro, deixando-me saudosa de outros tantos livros de autores portugueses que já me passaram pelas mãos, do presente século e não só. Só por esse motivo, vale a pena saboreá-lo.

O discurso que nos acompanha ao longo de quase 300 páginas tem uma tendência melancólica, ao estilo bem português, com um tom reconfortante que nos abre portas para o séc. XIX, mas sendo muito presente. Compõe um padrão de época, com várias personagens interessantes, ainda que se centre principalmente em Joana e Santiago. De facto, e não soubesse de antemão tratar-se de um romance de época e não de um romance histórico, a sinopse poderia ter-me induzido em erro. Desta forma, não acho que haja uma carência de elementos históricos, embora que, gostando bastante do género, esperasse algo mais. Não foi de tudo impeditivo da leitura, que se centra essencialmente nas pessoas, sendo o cenário de época um passepartout para o resto do enredo.

Quanto às personagens, é sem dúvida o casal e as suas vivências que predominam no enredo. Mas não caí de amores pela sua história. Joana é uma menina ingénua, fragilizada pela situação que está a viver, um pouco dramática (o que é aceitável atendendo à época onde vivia e à composição da sociedade, pelo que não choca), mas não a considero uma verdadeira alma rebelde, mais uma alma a rebelar-se. É afável, algo céptica com a realidade que a rodeia, e na generalidade generosa. Já Santiago assemelha-se ao herói latino, e a impressão inicial é de alguém que diz ser flexível, mas não admite que algo se passe de forma contrária ao que espera, que impõe a sua presença a Joana, só porque se impressiona (e que não me permitiu assimilar o porquê da paixão que a rapariga começa a sentir). Os seus ataques repentinos e as variações de humor, ainda que justificados, não facilitaram a criação de uma grande empatia com a personagem. É o evoluir da situação, e em parte (tal como aconteceu a Joana), a opinião das pessoas da casa que lhe dão o benefício da dúvida, e posteriormente, o poder de torcer pela sua sorte.

Depois do dito choque inicial, à semelhança da sua futura noiva, acabamos por nos adaptar e compreendê-lo, valorizando um pouco o seu esforço para reverter situações retrógradas e confusas criadas pelo seu pai, valorizando a moral, os valores humanos, acima de qualquer título a ser prezado.

O romance acaba por ser amoroso (desculpem o trocadilho), e nesse seguimento, a autora dotou o livro de um toque de classe (que para quem acompanha o seu blog, sabe que é já um cunho da sua escrita) e delicadeza que nem sempre se vê. Para mim, a leve sugestão da noite de núpcias acabou por ser mais ternurenta e enquadrada no decorrer da obra.

Gostava de ter tido um bocadinho mais dessas mesmas personagens secundárias e das que se apresentaram em terceiro plano. Na verdade, o surgimento de Alice não acrescentou nada ao enredo, e é o único ponto que acho que poderia ter sido evitado. O pai de Santiago também nos traz apenas uma amostra da sua personagem. Nunca senti o ar gelado e frio tantas vezes relatado porque as situações vividas foram muitas vezes descritas em analepses.

De resto, e como apontamentos finais (e que justificam o não chegar a quatro estrelas), custou-me imenso admitir a linguagem e o tratamento das personagens por na segunda pessoa do singular, talvez mais por falta de hábito que outra coisa. No entanto, todos os livros históricos ou de época que tenho lido até hoje, fazem essa pequena adaptação, independentemente da história a contar. Acho que por uma questão de proximidade à época teria sido mais agradável.

De qualquer forma, Carla M. Soares cativou-me pela sua forma sublime de escrever; e como diria Antoine de Saint-Exupéry em "O Princepezinho", cativar é criar laços. O que significa que estaremos por cá à espera da próxima obra.

Cláudia
Sobre a autora:
 
Maratonista de bibliotecas e bookcrossing, a Cláudia ainda consegue estudar e fazer o seu mestrado enquanto lê nos transportes públicos. Defensora da sustentabilidade e do voluntariado é tão fácil encontrá-la numa biblioteca como na Rota Jovem em Cascais. É uma sonhadora e gosta de boas histórias, procurando-as em cada experiência que vive.

Comentários

  1. Gostei muito desta opinião :D e concordo com tudo! ;)

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  2. Boa, fico contente. Ainda não li a tua opinião, já a escreveste? :)

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