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"É o comer que faz a fome."

Aqui há uns tempos atrás, enquanto estava parada na Feira do Livro a ver os alfarrabistas mais concretamente, um amigo meu que caminhava comigo apontou para uma imagem do Eça de Queirós e comentou que "bom, bom devia ser viver naquele tempo". Curiosa perguntei "porquê?" A resposta não se fez tardar, sem internet e televisão um dos maiores hobbies que existia era ler e uma pessoa podia sempre contar com um livro de qualidade pois menos que isso não era editado.
Na altura não pensei muito nisso para além do "Aí meu Deus se um dia me tiram a internet!", devo-me confessar uma viciada neste meio tão prático e universal de comunicação, mas ontem ao passear os olhos por uma prateleira de livraria apercebi-me de algo.
Não só o número de livros editados é cada vez maior, como satisfaz cada vez mais áreas. Pondo isto por outras palavras, se agora me apetecer ler um livro com uma temática especifica no enredo, por exemplo como uma rapariga que passava por mim com um livreiro ao lado dela dizia, "um livro em que o/a protagonista engane a/o namorada/o", eu tenho acesso a isso mesmo.
Se me apetecer ler um livro que tenha gatos, tenho a certeza que qualquer livreiro me poderá aconselhar alguns títulos, se quiser um sobre vampiros, o número será certamente elevado também! A questão surgiu-me de masinho, o que aconteceu para que o número de livros e de temáticas tenha crescido tanto? Como é possível que o número de livros tenham aumentado tanto? E mais, como é possível que se tenham tornado tão específicos?
Sem eu saber, o próprio Eça tinha respondido a esta questão por mim. Numa busca rápida pela internet encontrei uma frase bastante curiosa dele que deu origem ao título deste post: "É o comer que faz a fome.". Se pensarmos bem é uma frase bastante inteligente e que se adequa sem dúvida à presente situação dos livros.
Num espaço de anos, a leitura ficou acessível a todos, aprendemos a ler e apercebemos-nos da grande vantagem que ler é. Correndo o risco de me tornar poética por uns parágrafos, ler realmente abre as portas da imaginação e dá-nos sítios onde ir quando temos de ficar no mesmo lugar. Sabemos que estamos a ler um bom livro quando todos acham que estamos sentados no cadeirão da sala mas nós estamos verdadeiramente numa Londres vitoriana a olhar intrigados para um cadáver juntamente com as forças policiais da época.
A fome que nasce do comer é o que dá origem a livros com temas tão específicos. Há medida que comemos, ou neste caso, lemos, descobrimos do que verdadeiramente gostamos e voltamos para buscar mais. É uma fome incessável que faz com que o mercado cresça para dar resposta a essa fome. Por exemplo, tenho uma amiga que só lê fantasia. Todos os livros de outros géneros que lhe deram estão numa estante com um ou dois capítulos lidos e pouco mais. O que ela gosta mesmo é de magia e romance e hoje em dia ela consegue ter uma secção inteira de livros dedicada a apenas isso. E se ela não gostar de dragões, não há problema, ah e se forem vampiros também não.
Obviamente que esta situação não é particularmente nova e não devo ser a primeira a pensar nisto, mas há algo que me deixa um pouco apreensiva. Se o leitor sabe exactamente o que quer comer isso é bom? Não digo num sentido prático, porque obviamente que é bom sabermos o que gostamos de ler, digo-o mais no sentido de "podermos acabar por comer sempre o mesmo". Falando por mim mesma, chego a ter alturas em que não posso ver nem mais um feitiço à frente, não particularmente porque enjoe de magia mas porque os livros começam a soar-me todos ao mesmo. Acabo por não apreciar verdadeiramente o livro que estou a ler pois estou sempre a compará-lo com o livro anterior.
Assim sendo gosto de dar uma pausa nos géneros, se li comédia salto para ficção cientifica, se li romance passo para fantasia. Esta técnica acaba por me ajudar a não saturar de nenhuma temática e ainda a ser surpreendida por algumas revelações inesperadas.
Como leitura assídua gosto de ter muito por onde escolher e gosto os meus géneros literários bem gerais. Porquê? Porque gosto de ser surpreendida, o meu comer chama apenas fome de mais comida e não de um prato em especial. Sim, por vezes quero ler um género especifico! Por vezes apetece-me mesmo ler um livro na primeira pessoa ou um livro sobre magia, ou um livro soft ou uma biografia mas uma vez não são vezes. Pessoalmente gosto de chegar a um restaurante e provar coisas novas! Afinal se pedirmos um bitoque em todos os restaurante onde vamos, perdemos a oportunidade de encontrar um prato delicioso.
E vocês, caros leitores, que pensam? São pessoas de pedir sempre bitoque ou gostam de variar?

Comentários

  1. É engraçado falares nisso pois é uma questão que me tem assaltado de cada vez que saí um novo livro ou que entro na livraria.
    Hoje temos uma variedade inusitada de géneros e sub-géneros, as vezes nem sei identificá-los e concordo quando Martin diz que mais vale misturá-los e pararem de lhes dar nomes. E a qualidade às vezes não é a mesma...

    Eu sou daquelas que gosta de variar dentro das minhas preferências. Entre romances históricos, romances, fantasia e ficção científica, entre as muitas sagas que sigo, regularmente meto uma novidade pelo meio para não enjoar e descobrir algo novo...

    Obrigada por um post tão interessante =)

    boas leituras,

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