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Opinião: Unwind, de Neal Shusterman

Unwind
de Neal Shusterman
Edição/reimpressão: 2008
Páginas: 352
Editor: SIMON & SCHUSTER, LTD
Resumo:
Connor, Risa, e Lev estão a fugir para se salvarem.

Nos EUA a Segunda Guerra Civil nasceu do desacordo das facções pró-vida e pró-escolha sobre o Direito à Vida. A solução arrepiante? A vida humana é inviolável desde o momento da sua concepção até aos treze anos de idade. Entre os treze e os dezoito anos no entanto, os pais de uma criança podem decidir "desmonta-la" (unwind), e todos os seus órgãos são transplantados para outras pessoas respeitando assim os desejos das famílias pró-vida, pois todas as partes da criança continuam a viver, e respeitando os desejos das família pró-escolha, pois os pais podem abortar a criança retroactivamente.

Connor é demasiado "selvagem" e os seus pais não o conseguem controlar. Risa, uma orfã ao cuidado do Estado, não vale o suficiente para este a manter viva. E Lev é um tithe, uma criança que foi concebida para ser "desmontada". Sozinhos não conseguirão escapar mas juntos tem a pequena hipótese de não só o conseguir mas como ainda de sobreviver.  



Rating: 5/5

Comentário:
Sou sincera livros com as palavras "brutal", "cru", "verdadeiro" estampadas nas capas são hoje em dia algo habitual e, se as tivesse visto na capa de Unwind não o acharia fora do comum. O que acho fora do comum é que o livro o seja e as palavras não estejam lá.
Quando a Stacey, uma crítica de YA britânica, me recomendou Unwind referiu que este tinha sido o melhor livro YA distópico que tinha lido este ano. Tendo em conta que ela gosta tanto de distopias como eu pensei que este livro estivesse ao nível de livros como Maze Runner, Crónicas de uma Serva e Os Jogos da Fome, mas não, Unwind vai mais longe.
Com uma acção quase continua, com um ou outro momento para recuperar o fôlego, Connor, Risa e Lev estão a fugir para se preservarem "montados", visto que a opção de continuarem vivos mas "desmontados" não lhes parece de todo apelativa. O desespero e a necessidade vão ligar estes três jovens e fazer nascer entre eles uma confiança que noutras situações não se afirmaria tão depressa.
A história acaba deste modo por desenvolver temas interessantes, apesar de uma maneira subjacente, como o "pensar antes de agir", "confiança", "amizade" e "direitos humanos". Este é o género de livro que gosto, porque além de termos uma história fantástica, temos uma história que nos faz pensar, que nos questiona e que nos deixa mais ricos por a lermos.
Um dos meus momentos favoritos envolve Connor a falar com um grupo de três rapazes no qual eles discutem o que é "ser desmontado", "se a alma existe" e as suas vidas. O autor tinha, dado a situação em que se encontravam, a possibilidade de fazer o mesmo com Risa, a personagem feminina, e talvez essa fosse uma escolha mais seguras porque as raparigas costumam ser mais propensas a falar. No entanto, o autor escolheu Connor, um risco que lhe valeu um momento diferente e uma prova de desenvolvimento psicológico da personagem.
Este é um livro que nos fala de uma sociedade onde todos se viraram contra nós, até mesmo a nossa família, uma sociedade que quer todas as partes do nosso corpo e que está disposta a tudo para as conseguir. É um verdadeiro thriller de "contra tudo e todos" que nos mantém colados desde a primeira página, onde conhecemos Connor, até à última.
Este foi também, até hoje, o único livro que me deu, fisicamente, vómitos. Perto do fim tive de parar várias vezes entre parágrafos e respirar fundo, distrair-me antes de continuar a ler, porque eu queria continuar a ler e simplesmente não conseguia porque me sentia doente.
Creio que o horror que se apoderou de mim se deve dever ao facto de que, por uma vez numa distopia, não é o governo que exige aos pais que "desmontem" os seus filhos, são os próprios pais que o decidem fazer, o governo apenas lhes dá essa opção. Depois de muitas distopias nas quais o governo impera e as pessoas estão subjugadas à sua vontade. Foi assustador achar uma sociedade onde por um lado temos pais que se esforçam para comprar órgãos para os seus filhos e por outro temos pais que assim que os filhos fazem treze anos os mandam "desmontar".
Unwind é um livro profundo que deixa muitas questões no ar: Será que a alma existe? Será que efectivamente os "desmontados" continuam vivos? O que acontece à alma dos "desmontados"? O que acontece às pessoas que recebem partes de outras? Será o "desmontamento" uma alternativa 'viável' ao aborto?
Um livro para pensar, uma das melhor distopias que já li e que recomendo vivamente para todos os amantes de distopias e livros de acção.  Este saí com o selo do Encruzilhadas.


  • Este livro ainda não está disponível em português;
  • Unwind é o primeiro de uma trilogia mas pode ler-se separado;
  • O segundo volume chama-se UnWolly e saiu este ano assim como a novella UnStrung.

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