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Entrevista a Nuno Nepomuceno

Já (quase) todos ouviram falar dele. Vencedor do Prémio Literário Note! em 2012. Desde então já publicou 8 livros (muitos deles disponíveis em formato físico e ebook, e agora também em audiolivro), e sempre que chegam às livrarias (físicas e online), rapidamente entram aos top de vendas. Falo-vos de Nuno Nepomuceno, autor de 42 anos, e hoje em dia conhecido como um dos produtores de thrillers psicológicos em Portugal.  

Travei conhecimento com o autor há alguns anos, quando este me contactou para dar a conhecer o primeiro livro da trilogia Freelancer (o vencedor do dito Prémio Note!), assim como dos seus subsequentes. Sempre achei extraordinário o envolvimento e dedicação na promoção dos livros por parte do autor. Estivemos recentemente à conversa, a propósito do lançamento do seu último livro "O Cardeal", publicado em Portugal pela Cultura Editora.

© Marisa Martins

O teu primeiro livro data de 2012. Diz-me quatro coisas que tenhas aprendido sobre o mundo editorial, que te eram desconhecidas ou mais te surpreenderam nestes últimos anos.

Diria que o que mais me surpreendeu foi a perceção da quantidade enorme de pessoas que tenta entrar no mercado. São muitos aqueles que hoje em dia desejam escrever; contudo, frequentemente, querem apenas publicar um livro, algo que não esperava. Depois, com a maturidade que vamos ganhando, há muitos pormenores que passamos a conhecer melhor, como o processo de produção e distribuição, como funcionam as livrarias, ou a promoção das obras.


Para quem está de fora, percebe-se que gostas de te envolver em todo o processo de construção do livro. Como sabemos, um autor está dependente da sua editora, desde o momento em que entrega o manuscrito. Como tem sido esse processo para ti: dás palpites, confias de olhos fechados, tens alguma linha divisória que estabeleça até onde concedes e o que pretendes ver representado?

Todos os autores devem estar envolvidos no processo de produção de um livro. Excetuando aqueles que se estão a estrear, que naturalmente se sentirão pouco à vontade, se os outros não fizerem parte do processo, então, algo de errado se passa. Pessoalmente, encaro a produção e promoção do livro como um trabalho de equipa. O interesse de que seja bem-sucedido é tanto meu, como da editora, e temos de nos entender em prol do livro.


Este ano de pandemia tem sido um desafio para todos. No entanto, sei de casos em que o isolamento serviu de mote para arregaçar as mangas e iniciar um projecto há muito escondido. Como têm sido estes últimos meses para ti?

Tenho outra carreira, que continua ativa, a qual desenvolvo a partir de um escritório onde estou sozinho. Passei por alguns períodos de teletrabalho, mas de um modo geral, a minha vida profissional não sofreu alterações. Continuo a ter um emprego diário e a escrever no tempo que sobra. Em termos pessoais, tenho tentado cumprir as regras, sem bem que para mim o isolamento não seja um problema. Escrevo profissionalmente há quase uma década, o que é um ato de solidão. Por outro lado, sou bastante reservado e estou habituado a conviver comigo e depender só de mim.


A editora com quem agora trabalhas, a Cultura Editora, tem um projecto editorial e de comunicação bastante moderno. Pretende chegar à população digital e conhecedora das plataformas de promoção de leitura, e estende-se por diversos formatos originais (falamos por exemplo do audiobook que produziram, ou da disponibilização em ebook). Como tem sido a experiência de replicares o Afonso Catalão em tantos “idiomas”?

Tem sido muito interessante, porque me tem dado algumas oportunidades de desenvolver a minha criatividade e aprender novas formas e ferramentas de trabalho. Produzir um e-book é simples e não precisa de intervenção minha, mas o mesmo não acontece com um audiolivro, em que tenho de rever as provas através do som. Além disto, a Cultura Editora tem-me proposto novas formas de comunicar, como são o caso das séries em formato podcast Os Ficheiros Catalão e O Assassino, que me têm dado outra maturidade enquanto escritor.

Vamos ao momento bola de cristal: Se pudesses adivinhar, quem será o público-leitor mais comum para os teus livros? Achas que se tem mantido fiel, ou mudado de perfil com os anos?

Inicialmente, quando escrevi o meu primeiro livro, pensava que seriam os homens, por se ter tratado de um policial. Atualmente, tenho outra perceção. Não creio num público-alvo; julgo que os meus livros são escritos para todas os géneros e idades a partir da adolescência. Todavia, penso que a maior parte dos meus leitores são mulheres entre os 30 e os 60 anos, também porque essa é a maior franja da população portuguesa que lê.

Esta é uma pergunta que já te terão feito muitas vezes: porquê sempre a temática religiosa, qual o apelo?

A religião continua a estar no centro da maioria dos confrontos militares e políticos em curso, sendo frequentemente o móbil para muitas das discussões mundiais. Aquilo no qual acreditamos não tem, várias vezes, uma explicação, levando-nos a atos desesperados. Por isso, quando comecei a criar a série Afonso Catalão, achei que seria uma boa oportunidade para abordar algumas questões fraturantes da sociedade atual, como são os casos da xenofobia e do racismo. Nenhum dos meus livros é sobre religião. A religião, enquanto algo que define algumas personagens, é que faz parte do livro.

Lançar um livro ao mundo é deixá-lo crescer junto de quem o lê, mas também estar sujeito à opinião dos leitores. Como é que lidas com as opiniões, tanto positivas como negativas?

Tento dar atenção aos comentários e opiniões que me chegam, sobretudo se forem construtivos e se eu considerar que fazem sentido. Porém, uso de algum comedimento. O que muitos detestam é adorado por outros e vice-versa. A leitura de um livro será sempre influenciada pelos gostos pessoais do leitor.


Ainda sobre opiniões, costumam diferir muito entre “leitores comuns” e críticos literários? Diz-me uma coisa que tenhas lido sobre um dos teus livros que te tenha surpreendido.

As comparações com outros escritores. Não considero que existam assim tantas semelhanças entre os meus livros e os do Dan Brown, ou do Daniel Silva.

O que é que já aprendeste sobre um livro teu, que nunca te tivesses apercebido, até alguém escrever sobre isso?

Não querendo parecer presunçoso, nada. Sou e serei sempre o melhor conhecedor da minha obra, uma vez que todo o trabalho que é desenvolvido até ao início da revisão é feito exclusivamente por mim.

Escrevendo sempre sobre temáticas parecidas, torna difícil a inovação. Há uma certa segurança por parte do leitor, que já sabe ao que vai. O que é procuras incutir a cada livro novo, para gerar sempre uma certa descoberta e novidade a quem o lê?

Não concordo. Há semelhanças entre os meus livros, porque são escritos por mim, mas a parecença não vai mais longe. Por exemplo, A Célula Adormecida é sobre um ataque terrorista, Pecados Santos sobre um assassino em série, A Última Ceia sobre um o roubo de um quadro, A Morte do Papa sobre o desaparecimento de uma adolescente e O Cardeal sobre o homicídio de uma idosa, além da trilogia Freelancer, três livros de espionagem internacional. Não sou um escritor de fórmulas, de aplicar a um livro uma estrutura narrativa e achar que os leitores vão adorar, só porque o meu thriller mais recente é uma cópia do anterior.

Esta é uma solução que aparentemente o público aprecia, mas que não me satisfaz. Tento sempre criar novas personagens, explorar diferentes temáticas, ensaiar narrativas diversas, ou adicionar elementos novos. É o caso do sobrenatural, em O Cardeal.

O que é que pode esperar quem ainda não leu "O Cardeal"?

O Cardeal é um livro muito especial para mim por vários motivos. Foi escrito numa fase de grandes problemas pessoais, que afetaram a minha progressão e que inclusivamente colocaram em perigo a edição do livro para janeiro de 2021, como fora planeado. Por outro lado, considero que é o meu melhor thriller em muitos aspetos, refletindo o meu amadurecimento pessoal e enquanto escritor. Resumindo-o de uma forma simples, os leitores podem esperar uma história sobre segredos familiares com personagens que gostam de livros, pensada para pessoas que também gostam de ler.


 Última pergunta: 3 livros que recomendes, e porquê?"

Os Pilares da Terra, de Ken Follett, e O Estranho Caso do Cão Morto, de Mark Haddon, por serem dos que mais gostei de ler, e A Paciente Silenciosa, de Alex Michaelides, por se tratar do último que li.

Comentários

  1. Gosto muito da série do Afonso Catalão, foi com ela que vim a conhecer o Nuno Nepomuceno. Estou curiosa com a primeira trilogia, do espião português, que ouvi dizer que vai ser reeditada em breve! Desejo muito sucesso ao Nuno, e que continue a escrever com qualidade durante muitos anos! :)

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    Respostas
    1. São séries completamente diferentes mas eu diverti-me imenso com a freelancer. Há ali um cunho à James Bond Lusitano e, aqui que ninguém nos ouve, gosto mais da personagem principal da trilogia do que do Afonso Catalão ;)

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